domingo, dezembro 18, 2005

365 os primeiros anos


Os pacientes acertam no alvo porque só atiram quando o alvo está perto, a um metro. Não se trata de boa pontaria, é pura e simplesmente paciência. Esperar que a presa se aproxime.
Se ela está lá ao fundo não corras atrás, porque ela ouve os teus passos e vê o teu ar apressado, a tua ânsia. Nenhuma presa é estúpida, tudo o que tem medo percebe; ter medo acelera o processo de entender, e se a presa tem medo compreende, percebe tudo. Se corres atrás dela, ela foge: já ouviste falar dese fenómeno, não?
Espera, sim, no teu canto, se não correres atrás a presa não foge. Se não correres atrás a presa não tem medo, e se não tem medo não percebe, se não tem medo fica estúpida, não trabalha, não se esforça, não se esconde, entedia, senta-se, tenta uma sesta, adormece. Aí, disparas.

Gonçalo M. Tavares, in "365 os primeiros anos"

Assim se processa este livro em forma de revista, esta revista em corpo de livro. Um rol de nomes que impressionam de citar, esperam no silêncio das palavras que estejamos desprotegidos, desatentos. Aí, disparam. Disparam poemas, contos, pequenas histórias, fogachos de literatura, opiniões, aqui e ali uma entrevista. A editora COOLBOOKS (www.coolbooks.com.pt) publica assim um livro com selecção de textos de Fernando Alvim, José Luis Peixoto, Nuno Casimiro e Vasco Barreto, onde se tenta compilar um pouco do que foram as várias edições daquela revista ao longo dos anos. Tenta-se mostrar um pouco do que foi feito a quem não conhece, relembrar um pouco do melhor que tem lido a quem leu mas não guardou, e confrontar quem lê e guarda assiduamente com as escolhas que foram feitas face às de quem leu. Consegue-se a prova de que a Literatura em forma de revista (movimento que nomes como 'Orpheu' ou 'Presença' mostram ser pordemais profícuos) continua actual, viva e recomenda-se. Consegue-se cativar quem não conhecia. Consegue-se mostrar alguns nomes a muita gente desconhecidos. Entre outros, podemos ler neste livro Adília Lopes, Adolfo Luxúria Canibal, Adriana Lisboa, Clara Ferreira Alves, Jorge Reis-Sá, José Luis Peixoto, Mário Cesariny, Pedro Paixão, Rui Reininho, Rui Zink ou Valter Hugo Mãe.

Um último pormenor, não de somenos importância. Diz-se 'três seis cinco' e não 'trezentos e sessenta e cinco'...

1 Comments:

Blogger Aldemar Norek said...

Dá pena de ser tão difícil adquirir este livro aqui no Brasil.
Adoro o Gonçalo, a Adília, o Cesariny.
Deve ser material e tanto!

2:37 da manhã  

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