quinta-feira, dezembro 07, 2006

Danielson - Ships

Existem uma série de álbuns com determinada particularidade, nada fácil para quem o compra. Ter de o ouvir, repetidamente, para daí extrair algo, pode tanto ser agradável como penoso. Scott Walker é um exemplo. Danielson, um paradigma. Não é um objecto comum o último trabalho de Daniel Smith, agora de novo sob o nome de Danielson.

Quem é, então, este americano de New Jersey? Já com cerca de uma década de trabalho, tem primado o seu trabalho pelas colaborações com a família e amigos, publicando sobre várias variantes do nome Danielson (Danielson Famile ou Tri-Danielson, a título de exemplo). Com uma forte componente religiosa na sua música, o que nem sempre é fácil, especialmente quando o público é o povo indie, tradicionalmente independente desse género de conotações, edita em Maio de 2006, Ships, o seu mais recente trabalho.

Falar de comparações com Sufjan Stevens é redundante. Não só porque este é um dos grandes marcos do género onde se insere Danielson, mas especialmente porque ele colabora desde sempre com Daniel Smith, incluindo em Ships. Aliás, apesar de regressar ao nome original, Daniel Smith, o nome por trás do alter-ego, não abdicou da participação dos amigos, onde para além de Sufjan Stevens podemos ver ainda membros dos Deerhoof e de Ladytron.

Voltando a Ships, a verdade é que este é extremamente difícil de enquadrar. Classicamente enquadrar-se-ia numa Folk-Rock bastante experimental e alternativa E, na sua essência, é o que sucede. Mas as variações são tantas que a confusão se gera. Da Pop à Folk, passando pela electrónica, ainda com um cumprimento à musica experimental de passagem. Há momentos de euforia seguidos repentinamente pelos sons mais perturbantes. Há sonoridades de alguém que rejubila entre paragens melancólicas.

São estas variações que marcam o álbum. Para o melhor e para o pior. Ships é um muito bom cd. É-o sem qualquer favor, tenha os defeitos que tiver. Mas fica a sensação que poderia ser muito melhor. Smith entrou numa onda de alterações e experiências musicais que apenas pode trazer boas consequências, mas tem de ser controlado. Ships sofre de ser um trabalho demasiado desgastante. Há tanto som neste cd que se torna difícil não o odiar ou amar. Como aliás, quase em tudo com Daniel Smith. Até na sua voz.

“Bloodbook on The Half Shell” é provavelmente a melhor música de todo o álbum. Na retina (sim, que Daniel Smith é um adepto da comunicação artística do visual com o áudio, como o comprova a excelente capa de Ships) ficam ainda “Did I Step on Your Trumpet” e “Kids pushing Kids”. Boas melodias, boas experiências e boa música. Mas apenas apartir de algumas audições e em excesso. Esperemos que Ships seja a promessa de algo maior.
Título: Ships
Autor: Danielson
Nota: 7/10