terça-feira, outubro 31, 2006

Vivo #1 - Daft Punk no Festival do Sudoeste (II)


Adiante com o que importa aqui: a digressão. As datas e locais foram sendo anunciadas, a conta-gotas, no myspace da banda. O americano Coachella, o espanhol Summercase e o britânico Global Gathering foram dos primeiros, seguindo-se outros festivais como o belga Pukkelpop, de forma previsível. Entretanto dera-se a estreia em Coachella e clarificou-se o género de espectáculo a apresentar, saltando à vista a exigência logística do mesmo. Seria, portanto, uma actuação apenas passível de ser montada num Festival com suficientes recursos técnicos e financeiros. Foi com um certo espanto que algum público português recebeu a notícia, pois sabia-se de antemão que a nunca se ultrapassaria a vintena de concertos, a nível mundial, e duas dessas performances seriam levadas a cabo em Madrid e Barcelona, suficientemente perto de Lisboa. Se um cálculo fosse feito à densidade de actuações dos Daft Punk por metro quadrado, a península ibérica levaria certamente vantagem.

Publicitado o cartaz definitivo da edição de 2006 do Festival do Sudoeste, saltou à vista a heterogeneidade do mesmo. Para tal basta ler o alinhamento do dia 5 de Agosto, por ordem de entrada em palco: Boss AC, Marcelo D2, Skin, Madness e Daft Punk. Diga-se, em abono da verdade, que a Música No Coração foi bastante inteligente na sempre difícil tarefa de agradar à maior variedade de públicos possível mas convenhamos que, em abono da coerência, o Festival do Sudoeste foi um tremendo disparate, em oposição à consistência estética do Festival de Paredes de Coura, a conquistar gradualmente um papel de relevo no panorama internacional.

Como consequência directa do duvidoso alinhamento observaram-se grandes movimentações de pessoas junto ao palco principal, só estabilizando com a entrada em cena dos Madness, sendo que a partir desse momento a maioria do público que se encontrava em esmagamento próximo das barreiras constituía já o núcleo indefectível de fãs dos franceses. Mais para trás, as entrópicas franjas iam cedendo à ordem e criando um semi-círculo à volta do palco, largo e bem definido. Segundo a organização, a maior afluência registou-se neste dia, tendo provavelmente ultrapassado as 35 mil pessoas.

Terminado o oscilante concerto dos Madness, os mais desprevenidos esperavam uma transição rápida para os ex-Darlin’. Mais de trinta minutos se contaram, e os mais impacientes progressivamente compreendiam que algo diferente se construía por detrás das cortinas negras entretanto corridas. Volvidos outros 10 minutos, os panos descerraram a arquitectura: uma pirâmide cortada no topo, com a pequena pirâmide formada com o corte elevada acima desta, criando o espaço para os robôs em fatos de cabedal ou, metaforicamente, o cockpit da nave espacial com que iniciariam a viagem; no lugar das faces das pirâmides encontravam-se ecrãs LCD e, num triângulo envolvente, uma estrutura de potentes projectores guarnecia o dispositivo; a rodear tudo isto, uma grelha de luzes néon em pequenos triângulos e, na rectaguarda última, um ecrã rectangular ocupava a parede do fundo do palco. O cenário, bem entendido, avisava para a existência de um qualquer conceito superior a ter em conta, e aconselhava à maxima atenção, nomeadamente a visual. Na esteira dos alemães Kraftwerk (na elaboração de um contexto), bebendo do compatriota Jean-Michel Jarre a necessidade de uma grandiloquência visual e teatral e revisitando a ficção científica de George Lucas, Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem Christo estabeleciam um universo próprio pejado de referenciais.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este ano fui ao Sudoeste mais por tradição, do que pela musica. Conheço os madness desde miudo, e fiquei um pouco desiludido, gostei dos Prodigy e pouco mais. Quanto aos Daft Punk o palco estava monumental, a música deles é que não me toca muito, tirando algumas honrosas excepções, nãos sou grande fã de música electrónica. Ainda assim reconheço que foi um bom espectaculo.

2:57 da tarde  

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