terça-feira, abril 18, 2006

A caixa de Pandora


Para criar Arte, é preciso conhecê-la. Para criticar Arte, é preciso procurá-la e estudá-la o máximo possível. Especialmente nos nossos dias, especialmente no que toca a música. Haverá, de facto, poucos âmbitos da arte onde o conhecimento generalizado seja tão proveitoso e necessário como na música. Poderá dizer-se que é impossível escrever sem ter lido. Alberto Caeiro diria o contrário. Outros escritores modernos fazem o contrário.
No que toca à música, urge generalizar o gosto pelo filtro. Urge que se procure mais, que se conheça mais, que se oiça mais de mais géneros, pois só assim podemos exercer convenientemente o nosso direito cultural de escolher os nossos gostos que, como diz o povo, são pessoais. Também diz o povo que esses mesmos gostos não se discutem. Caso não ache o mesmo (o povo nem sempre tem razão...), é melhor também que tenha conhecimento de causa.
Ora, nestes tempos de poupança e aperto, e de caça à bruxas, qual Mccarthy, pela AFP e o seu fiel escudeiro Eduardo Simões, escasseiam os bons meios de conhecer mais música, acima de tudo, mais música que nos interesse. É aqui que entra Pandora. Em www.pandora.com poderá ter acesso a um programa de base de dados bastante sólida cujo único propósito parece ser o de dar a conhecer a cada um mais músicas que a esse interesse.
Para tal, este programa gratuito analisa a composição musical de milhares de músicas e, de início, pede-nos uma música ou cantor que gostemos. Basta-nos a seguir regozijar os ouvidos com as sugestões. O programa vai-nos surpreendendo com algumas escolhas que lhe pareceram semelhantes ao nosso gosto. Quando estiver farto de explorar um género, escreva simplesmente mais um nome. Uma vez aberta, dificilmente quererá fechar esta caixa musical de Pandora.
Pandora

6 Comments:

Blogger Pedro Teixeira said...

Mais do que conhecer tudo rapidamente, importa atender a outra urgência, certamente mais madura: saber bem. Não pretendo transformar a cultura numa linha de produção; muito menos numa cadeia de fast-food. Importa conhecer, sim, mas conhecer bem e em profundidade.

1:19 da tarde  
Blogger Gustavo Jesus said...

Só consegues "conhecer bem", depois de conheceres, em bruto, para que possas tu próprio filtrar o que te interessar. Caso contrário, corre o "conhecer bem" o risco de "conhecer pelos outros". De qualquer forma, sim, interessará mais o profundo que o imediato de cada obra, o menos perceptível à primeira do que uma passagem fugaz.

8:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"O risco de conhecer pelos outros"??? Meu Deus...

8:39 da tarde  
Blogger Pedro Teixeira said...

Como o tempo é limitado (isto é, para nós), esse conhecimento em bruto será sempre incompleto. Haverá sempre, portanto, algo que nos escapará em virtude da mortalidade. Então cada um, em grau variável conforme a dedicação, dependerá desse fenómeno natural que é "ouvir dos outros". Querer conhecer é já uma filtragem. E análises a correr não consta que expremam tudo o que há para expremer.

9:06 da tarde  
Blogger Gustavo Jesus said...

Não sei se será assim tão natural. Ou, se natural, se será assim tão saudável, pelo menos nos meandros em que ocorre, e se for impeditivo de outras coisas chegarem aos ouvidos. "o risco de conhecer pelos outros" é não conhecer o que os outros não gostam.

10:57 da tarde  
Blogger Pedro Teixeira said...

Pretendo apenas dizer que o problema é de magnitude, e não de substância, pois que o fenómeno é, creio eu, comum a todos os que oiçam, vejam e leiam, excluindo os eremitas.

11:12 da tarde  

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