quarta-feira, setembro 27, 2006

United 93


5 anos após o fatídico 11 de Setembro de 2001, altura em que a América entrou em histeria colectiva, chegam finalmente as primeiras tentativas cinematográficas de abordar a questão. Mais ano menos ano teria de acontecer. Michael Moore já havia, com um pouco mais de interesse acrescente-se, aberto caminho pelo recalcamento americano. Mas a abordagem subversiva de Moore parece, a julgar pela reeleição de Bush, ter tido mais impacto na Europa do que na sua terra natal. Mais ano menos ano, então, isto tinha mesmo de acontecer.

E, com uma previsibilidade assutadora, os primeiros filmes comerciais surgem para relatar, não a inoperância da máquina defensiva americana, não as causas mais obscuras por trás dos ataques (como o fez Moore), não para explorar algumas teorias da conspiração (como o fizeram alguns telefilmes e fará, com certeza, o género policial do futuro), nem tão pouco para acompanhar as desventuras e torturas da guerra a que este ataque deu origem (ou será que a necessidade da guerra deu origem aos ataques?). O que nos chega são duas histórias paralelas no sentido em que apontam. A força do americano comum. Os lobos maus dos árabes atacam os coitadinhos indefesos dos americanos. Nada a que Hollywood não nos tenha habituado, revendo Rambo’s, Air Force’s e afins. Nem é isto que principalmente se critica em United 93.

A grande falha de United 93 é que Paul Greengrass (Domingo Sangrento, Supremacia de Bourne) parece esquecer-se que toda a gente viu o 11 de Setembro, toda a gente o comentou, pesquisou, ouviu, reouviu, reviu em todos os aniversários da data. United 93, mais do que um documentário, parece um telefilme de fraca qualidade, ao qual não será alheia a génese documentista do realizador. Este era, provavelmente, um filme que tinha de ser feito. Alguém, na história recente da cinematografia americana teria de relatar a vida deste grupo de sobreviventes, não na medida em que sobrevivem, mas na que fazem por tal. Louvemos ao menos Paul Greengrass por nos deixar com uma certeza, “Pronto, já está”. Melhor assim, despachar esta “necessidade” logo ao princípio da história da filmografia sobre o 11 de Setembro. Talvez assim se abra caminho para procurar mais.

Greengrass até procura alguns pormenores interessantes. A separação física dos actores aquando da filmagem para que melhor sentissem o isolamento e a necessidade de confiar em estranhos, o recurso às já célebres câmaras à 24 ou a obrigatoriedade dos actores em refazer a vida da personagem que interpretavam. Contudo, à parte o óbvio onde falha (toda a forma de pegar no enredo), Paul Greengrass perde-se ao tentar mostrar quer a aflição inoperante das Torres de Controlo (cenas de uma vivacidade só ao alcance de um filme de Manoel de Oliveira) quer os últimos instantes, qual Reality Show, dos já-elevados-a-heroís passageiros. Na retina fica um bom final. Despido de tudo, uma queda em direcção à morte, a queda na relva, o escuro, o silêncio e o acender das luzes no cinema: “Nós morremos, vocês estão aí, isto foi um filme”. Hoje soube-me a pouco, diria o Sérgio Godinho.

Four planes were hijacked. Three hit their targets. One did not.” Pois, o problema é que nós já sabíamos isto.
Título: United 93
Realizador: Paul Greengrass
Elenco: Christian Clemenson, Cheyenne Jackson, Polly Adams, Trish Gates, Opal Alladin, Omar Berdouni, Simon Poland e Lewis Alsamari.
E.U.A., Inglaterra e França, 2006.
Nota: 5/10

4 Comments:

Blogger B. said...

Tarde e más horas o meu comment.
Mas só hoje vi este filme na lista dos já criticados.
Não concordo com a tua avaliação negativa ao filme. O filme retrata muito bem o que vive para retratar, acima de tudo a nível técnico, a realização é soberba, e está muito bem montado, acho que é de valor máximo essa componente. Acho que se pode pedir muito pouco mais a este filme, ele deu-nos a história que todos conhecemos (não há forma de contornar), e acima de tudo fugiu sempre com mestria a clichés de heroi americano, porque na verdade, vimos seres humanos a lutar pela sobrevivência, e não pelo amor à pátria, não há momentos de génio, mas sim brutalidade física para parar os terroristas. Acho um filme muito bom, dentro do seu universo limitado, aí então é mesmo excelente. Vai ser um outsider nos óscares concerteza...O que não quer dizer grande coisa hoje em dia, ainda assim...
Ah, e ainda bem que estreou perto do WTC do Oliver Stone, para ver se é desta que percebem que não se deve dar $ ao Stone, deviam ter dado a quem sabia o que fazer com ele...E o Oliver Stone não sabe há algum tempo já, mais um fracasso.

4:20 da manhã  
Blogger Gustavo Jesus said...

Mas é exactamente o facto de não se poder pedir muito ao filme que me desagrada. É uma espécie de telefilme sem grandes ambições à partida. Mais vale ser contido e resultar do que megalómano e criar um fiasco, diram. Talvez. Mas tanta previsibilidade chega a ser cansativo. A nível técnico sim, há de facto alguns bons pormenores que, apesar de não originais, apimentam positivamente o filme.

8:52 da tarde  
Blogger Gustavo Jesus said...

Mea culpa pelo erro ortográfico.

8:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O filme é realista,e leva em conta o perfil das vítimas,de acordo com os seus familiares.Não teve a pretensão de ser um sucesso comercial,apesar de que,foi o que aconteceu,justamente por ter sido fiel aos relatos oficiais conhecidos,cuja fonte principal foi o relatório final da Comissão Federal sobre o 11 de Setembro.Os comentários falando mal do diretor do filme e outros detalhes técnicos,são sem fundamento,feitos por gente que não entende do assunto,dizendo besteira.O filme tem um valor muito importante.É só assistir o comentário do diretor em áudio,na opção "bônus",que vem no DVD.

4:51 da tarde  

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