domingo, fevereiro 05, 2006

Ex-Cena em cena


"Porque é que escrevi O Exercício do Outro?

Porque gosto do jogo e da construção. Gosto de jogar com partes que se ajustam para formar um todo e depois se desmontam para de novo se reajustarem num todo diferente. Que antes não sabemos qual é. Gosto do enigma que torna o jogo uma espécie de método experimental de hipóteses múltiplas. E simultâneas. Atrai-me a possibilidade e a histeria. Como um jogo. Como uma personagem
Porque gosto de personagens. Gosto do mistério da criação de personagens no papel, que ganham vida própria para além da vontade que as criou e adquirem vontade própria para além da vida a que foram limitadas. Que não se fica por aí e não sabemos onde vai ter, porque é um testemunho passado em mão para o actor. Fascina-me o percurso do actor que busca partes de si para formar um todo e depois se desmonta para novamente se buscar na construção de um todo diferente. Como um método experimental de hipótese múltiplas. Como um jogo de possibilidade e histeria. Como o teatro.
Porque gosto do teatro. Gosto da confusão de elementos assumida no teatro como um jogo. Gosto da necessidade de assumir a confusão de elementos própria do teatro e do jogo do processo criativo, que consiste em ordenar os elementos muitas vezes pelo caminho de deixá-los à solta para que se ordenem sabe-se lá como. Como uma possibilidade. Como um esgotar de possibilidades até à histeria. Como uma impossibilidade para lá da histeria. Como a vida.
Porque gosto da vida. Gosto particularmente da vida humana, em todas as formas e possibilidades que ela pode assumir e afirmo a minha luta contra a recusa da possibilidade da vida, mesmo quando ainda não assumiu forma visível e, portanto, não sabemos onde vai ter. Transcende-me o mistério da vida, das partes mínimas de infinito que se conjugam para formar um todo irrepetível e depois, fatal e misteriosamente, se desmontam para. Como um enigma. Como um jogo. Como um jogo enigmático até à histeria. A histeria da possibilidade. E da impossibilidade também. Como tudo.
Porque gosto de tudo."
Álvaro Cordeiro
O Grupo de Teatro (amador) Ex-Cena estreou na quinta-feira passada, dia 2 de Fevereiro, a peça O Exercício do Outro de Álvaro Cordeiro. Este post apresenta-se como meio de divulgação e não de crítica. Porque a peça está em cena (pelo menos) mais um fim-de-semana (o próximo) e é essencial para o espectador saber o mínimo possível para que se deixe surpreender por um texto inspirador e uma encenação aparentemente enigmática.
Apesar de, não estar a fazer uma crítica à peça, o facto de a divulgar sustenta uma avaliação favorável de alguém que já a viu mais que as três vezes que esteve em cena e, encontra sempre uma interpretação diferente das anteriores, tal como os diversos elementos do público demonstram na interecção pós-peça.
Título: O Exercício do Outro
Autor: Álvaro Cordeiro
Encenação: Paulo J. Vaz
Elenco: Ana Cabral; Ana Correia; Andreia Alexandre; Catarina Duque; Joana Duque; Marta Geraldes; Paulo J. Vaz; Paulo Martins; Tiago Almeida.
Em cena nos dias 9,10 e 11 de Fevereiro no Auditório de Alfornelos, Teatro Passagem de Nível.