sexta-feira, maio 11, 2007

Pequenos Crimes Conjugais




Pequenos Crimes Conjugais é uma peça de teatro, da autoria de Eric-Emmanuel Schmitt, que esteve em cena no Teatro Nacional D.Maria II no início do presente ano. Esta encenação contou com a interpretação de Paulo Pires e Margarida Marinho. A minha disponibilidade na altura não me permitiu trazer esta peça para o Espaço de Crítica Artística. No entanto, a peça está em reposição no Teatro Aberto sendo a motivação que faltava para uma nova crítica. Explicito que o texto que se segue decorre da encenação no Salão Nobre do Teatro Nacional D. Maria II que contou com a interpretação de Margarida Marinho e não de Rita Salema. As diferenças do espaço e das actrizes provocarão diferenças evidentes no resultado final.

Tudo começou com a entrada no Salão Nobre. A escolha desta sala-não-auditório tornou-se evidente. O prolongamento do cenário encarnado até às duas plateias laterais encaixava perfeitamente na nobreza do salão onde se destacavam dois candeeiros grandiosos. Schmitt, o anfitrião da visita àquela casa tão invulgar (praticamente todos os elementos cénicos eram encarnados, desde a poltrana até às centenas de livros expostos nas prateleiras) recebe-nos como se de uma visita guiada à sua casa se tratasse. Nós, os convidados, deixamo-nos envolver por todo aquele ambiente e seguimos o mestre de cerímonia para onde ele nos leva. Schmitt aproveita-se do facto e manipula-nos de uma forma irritante, tal é a facilidade com que admitimos uma mentira descarada como uma verdade inegável. O autor apresenta-nos um casal fragililizado que vive um dia importante: o regresso a casa de Jaime (Paulo Pires) depois de um inexplicável acidente. Jaime, amnésico, interpela Luísa (Margarida Marinho) com uma série de perguntas aparentemente inofensivas. A partir deste ponto Schmitt constrói os alicerces para uma demonstração de genialidade dramatúrgica pouco recorrente nos palcos portugueses. Sem querer escancarar onde se exprime a inteligência do autor, destaco mais uma vez o largo caminho que o mesmo nos obriga a percorrer que, tem tanto de “desnecessário” como de delicioso.

Sobre a primeira encenação do realizador José Fonseca e Costa não há muito mais a dizer. A ideia de criar uma sala invulgar num salão tão perfeito é mesmo de aplaudir. Todo aquele vermelho podia ter o efeito indesejado de repugnância no público mas tal não se verificou e, o risco corrido valeu muito a pena. Fora este rasgo, criador da tão esperada imagem cinematográfica, a encenação caracterizou-se por ser bastante eficaz, nomeadamente, na escolha dos dois actores. As personagens não são fáceis, não são exuberantes, vivem da constante mutação de sentimentos que o diálogo entre ambos desencadeia. Sem pretender cometer uma grande injustiça, parece-me que a interpretação de Rita Salema ficará aquém de Margarida Marinho (compromissos assumidos previamente não permitiram que a actriz continuasse a interpretar a personagem), nem que seja como consequência dos escassos 10 dias que Rita Salema dispôs para ensaiar. E como o desempenho de um actor vive da contracena e irradiação proveniente dos outros actores em cena, é de se esperar um Jaime algo diferente mas igualmente intrigante.

“Uma peça de teatro de Schmitt é sempre uma peça imperdível”. O conselho não é meu, pelo contrário, limitei-me a tomá-lo em consideração. Pequenos Crimes Conjugais não estará provavelmente ao nível de A Visita (também esta já encenada no Teatro Aberto, interpretada por João Perry e João Reis) mas como pretendo continuar a seguir o conselho, espero alargar o meu leque de conhecimento das criações do tão elogiado autor.

1 Comments:

Blogger iLoveMyShoes said...

Não vi esta segunda "versão" com a Rita Salema, mas confesso que na primeira versão a Margarida Marinho foi o pior do espectáculo... Não sendo uma peça excepcional, o texto é um tanto ou quanto recheado de pequenos clichés sobre o relacionamento de um casal, lembro-me que passei um bom bocado... mas que fiquei extremamente decepcionado pela interpretação da Margarida Marinho, actriz que eu tinha em extrema consideração.

10:27 da tarde  

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