quarta-feira, novembro 08, 2006

Todos os dias fossem estes outros


“As canções surgem como tentativa de resposta a questões que me vou pondo. Influencia-me tudo aquilo que possa dar origem a essas questões. Na fase seguinte, dos arranjos, a minha grande influência é a musicalidade do Nicolas Tricot.”
Nuno Prata (Ler aqui)

Parece nascer assim uma das melhores duplas dos últimos templos. Nuno Prata e Nicolas Tricot. Pelo menos a julgar pelo trabalho do primeiro que agora surge, Todos Os Dias Fossem Estes Outros. Apelando ao trocadilho fácil, quem dera que todos os dias fossem esse outro em que Nuno Prata, por cima das dificuldades inerentes à industria discográfica portuguesa, decidiu gravar este belo álbum.

Para muitos, o nome de Nuno Prata não será estranho. Baixista de uma das melhores bandas da história recente da musica Pop-Rock, Nuno Prata é fiel (não sendo plagiador) às suas origens. Quem ouvir o cd, facilmente percebe que se fala dos Ornatos Violeta, uma banda que impôs um estilo próprio e inequívoco à custa tão somente da inovação. Manuel Cruz foi o primeiro a dar o salto (ou os saltos, tendo em conta o número de projectos em que se envolveu) e Nuno Prata vem agora provar que o talento da banda portuense não era fruto do acaso nem um one-man-show.

É um álbum de canções. Mentira. É um grande álbum de canções, um dos melhores dos últimos anos. Demonstrando-se um verdadeiro Song-writer, Prata vai trilhando este conjunto de 19 canções como um rally por entre o Bairro Alto. Uma noite, com as dores, angustias, boémias e bebedeiras mentais de Nuno Prata. Tudo no seu universo de escrita bastante assonante e intrincado.

Do melhor da canção portuguesa bebe Nuno Prata. De Sérgio Godinho à parte mais jazz de Jorge Palma. Do melhor Pop-Rock português bebe também Nuno Prata. Dos seus Ornatos aos Entre Aspas. Ritmo constante, em fundo Pop-Rock dançante, com o pano de fundo de um bar de Jazz. Sempre, sempre, dentro da mente de Nuno Prata. Ainda que ele diga: “Ainda que o sinta, dentro não é lado nenhum.”

A noite começa rítmica com sabor ao melhor dos Entre-Aspas “Não, eu não sou um fantasma”, seguida da agradável “Figuras Tristes”. Agradável como um vinho que corre na garganta. Mais à frente, “Nada é tão mau” é o single que passa nas rádios, a lembrar o jazz de Jorge Cruz aqui e ali. “Alegremente cantando e rindo vamos” conta com a participação dos amigos (onde se inclui Manuel Cruz). Segue a noite e encontramos “Esse não”, a prova de que afinal os Ornatos não acabaram. Ainda bem e siga a parada. A parada segue noite fora, sempre a escorrer, até que próximo do final da noite, vemo-la à porta de um bar. Alice. Música à Caetano Veloso, cheia de incessantes assonâncias e repetições. E porquê tudo isto? A resposta vem a seguir. Porque o homem invisível ainda acha possível.

Feliz da música portuguesa se todos os dias fossem estes outros.

Título: Todos os dias fossem estes outros
Autor: Nuno Prata

Nota: 7/10

1 Comments:

Blogger Olavo Lüpia said...

É um disco ENORME!
Por português, provavelmente, o melhor do ano.
Fico à espera dos restantes bons songwriters da nova vaga: Manuel Cruz, JP Simões e Old Jerusalem. Acho que editam todos em 2007...
Até me salivo!

1:56 da manhã  

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