terça-feira, abril 04, 2006

Do Piccolo Teatro de Milão para a sala estudio do Maria II

Dia 27 de Março é o dia mundial do teatro. Algo que o nosso blog não podia deixar passar em branco. Em comemoração o Teatro Nacional D. Maria II tinha em cartaz duas peças: na sala Garrett, a peça “A mais velha profissão” (com Fernanda Norberto, Maria José, Gloria de Matos, Lia Gama e Lurdes Norberto e encenada por Fernanda Lapa); e na sala estúdio “Arlequim servidor de dois amos” original de Carlo Goldoni.
Para celebrar este dia resolvi assistir o Arlequim.

Para quem não conhece a sala estúdio do TNDMII, é uma sala bastante pequena com capacidade para cerca de 52 pessoas, palco à italiana, Para quem conhece imaginem um estrado de madeira, nesse estrado de madeira imaginem uma cortina ao fundo, castanha com o cenário desenhado. Como podem ver, mais simples impossível.
Assistir a este Arlequim da FC Produções é sinónimo de assistir a um excelente trabalho da máscara (característica da commedia dell’Arte).

“Por commedia dell’Arte entende-se comédia italiana de improviso, que surge em Itália em meados do séc. XVI e se prolonga até ao séc. XVIII. As representações teatrais levadas a cabo por actores profissionais, Eram feitas nas ruas e nas praças, e fundaram um novo estilo e uma nova linguagem, caracterizadas pela utilização do cómico. Ridicularizando militares, prelados, banqueiros, negociantes, nobres e plebeus, o seu objectivo último era o de entreter um vasto público que lhe era fiel, provocando o riso através do recurso à música, à dança, a acrobacias e diálogos pejados de ironia e humor.”
Sandra Andrade

A peça, apresenta um enredo típico da commedia dell’Art com os dois pares de namorados, cujos amores contrariados estão no centro da acção, os dois velhos, Pantaleone e Doutor, e os dois Zanis, Brighela e Arlequim, para alem da criada Esmeraldina.
Nesta versão Filipe Crawford dá importância ao trabalho de máscaras e dos actores, tentando tirar partido dos processos de trabalho típicos do estilo, como a improvisação.
A acção foi transferida de Veneza para Lisboa e as personagens adaptadas a uma realidade ficcionada com referências à actualidade portuguesa, permitindo assim uma maior percepção especialmente do público mais novo, mas correndo o risco de que um espectador que vá à procura de um espectáculo rigoroso saia decepcionado. Exemplo disso mesmo é o facto de Arlequim afinal não vir de Bergamo mas sim da Trafaria e o seu cognome é o trafulhão. A música é muito sui géniris, efectuada pelos próprios actores que quando a sua personagem não pertencia à acção, tocavam os mais variados instrumentos na parte lateral do estrado, uma óptima ideia, não fosse causar uma distracção ao espectador que se sentia obrigado a dividir a sua atenção entre a música e o desenrolar da acção acabando por perder alguns pormenores da peça.

Em suma uma peça a salientar pelo trabalho de máscaras, pela música e pelo trabalho de actores com destaque para Carlos Pereira, que representa o Pantaleone brilhantemente.

Titulo: Arlequim servidor de dois amos
Autor: Carlo Goldioni
Tradução: Filipe Crawford
Adaptação: Filipe Crawford
Encenação: Filipe Crawford
Cenografia e figurinos: Marta Carreiras
Máscaras: Nuno Pinto Custódio, Renzo Antonelo e Takashi Kawahara
Elenco: Alexandre Pedro, Anabela Mira, Andreas Piper, Anne-Louise Konczak, Carlos Pereira, Diana Costa e Silva, Guilherme Noronha, João Paulo Silva e Vasco Campos