terça-feira, fevereiro 13, 2007

Bloc Party - A Weekend In The City


Parece que o segundo álbum se tornou uma espécie de prova dos nove que toda e qualquer banda deve superar. Chegou-se agora a um ponto em que o segundo álbum é visto como, regra geral, um sacrifício. Uma caminhada de pés descalços sobre as brasas. Embora seja verdade que, por norma, o segundo álbum envolve todo um processo psicológico que inclui tomar conhecimento das expectativas (dos fãs, da crítica e dos próprios músicos em relação à sua música) e reagir a elas, não foge muito da intensidade da pressão que rodeia a estreia ou, em rigor, outro momento qualquer. Criou-se esta ideia de que o segundo álbum é não apenas o que se segue ao primeiro, mas sim o “difícil segundo álbum”, uma espécie de parto doloroso. Construída a ideia, torna-se fácil encontrar uma mão cheia de exemplos que a corrobora. A tese pretende estabelecer um facto: quando o sucesso atingido no primeiro álbum é grande, a sequela destina-se, com grande probabilidade, ao fracasso. Esta tese, para além de ser contrariada por vários casos, faz com que muitos tendam a esperar esta mesma hecatombe antes de escutar o álbum.


Este ano os Bloc Party afiguram-se, para alguns, como os possíveis novos membros dessa suposta galeria de bandas que derraparam à segunda tentativa. O êxito estrondoso de Silent Alarm, através de três ou quatro êxitos que de novo reintroduziram o rock nas pistas de dança, fez crescer água na boca a muitos fãs. A infecção do pós-punk, realizada nas primeiras faixas de Silent Alarm, convenceu uma certa parte dos admiradores que não notou (ou não quis notar) que havia ali algo mais que a satisfação dos jovens ocidentais mais hedonistas. Que, para além das guitarras angulares, dos riffs irresistíveis, havia uma agenda ali. Uma agenda que é personificada por Kele Okereke, vocalista e figura proeminente da banda. Em todas as entrevistas da banda, o rapaz do século XXI (para o Guardian) acaba por mostrar, mesmo que de uma maneira um pouco confusa, que há uma pretensão de se atingir algo maior que a euforia adolescente. Há melancolia, depressão e até significados políticos (oiça-se “Price Of Gas”, de Silent Alarm). E é esse lado que se desenvolve em A Weekend In The City.

Neste álbum, os Bloc Party aproximam-se dos TV On The Radio tanto quanto se afastam dos Gang Of Four. Os sintetizadores ganham força e, embora nunca surjam destapados, revelam o impacto que o R&B tem na banda, nomeadamente as produções de Timbaland. Produzido por Jacknife Lee (que, a propósito, gravou umas compilações musicais para a banda escutar, com nomes tão díspares como Amerie e Isolée), A Weekend In The City mostra-nos uns Bloc Party no caminho de se tornarem na banda de suporte de Kele Okereke e da sua voz em mutação. Kele quer, ambiciosamente, retratar o burburinho da metrópole londrina na sua expressão mais moderna e fresca – o relato de uma geração que não se deixa unir por um sentimento colectivo, que convive com uma data de realidades semi-ocultas até há umas décadas atrás, desde o efeito sedutor das drogas até à descoberta de que a sexualidade é mais ambígua do que parece, passando pela frustração de se acharem como peões numa guerra internacional vergonhosamente encenada. Esta geração ocidental do myspace e do Youtube é, contudo, mais aérea e tola do que ele julga. Fora do mundo anglófono, será que os jovens admiradores da banda vão mesmo prestar atenção ao que ele diz? Agora que os Bloc Party se querem tornar um banda de rock a sério, como eram as do passado, servindo-nos um álbum que é simultaneamente uma tela e um protesto, mesmo que esteticamente com pés de barro, haverá uma geração que os queira ouvir?

É discutível. O problema é que eles passaram do anonimato ao estrelato devido ao apelo dançante de “Like Eating Glass” e “Banquet” e não a considerações sociológicas ou afins. Agora há poderosos refrões, com conteúdo e energia, como em “Song For Clay (Disappear Here)”, “Hunting For Witches” e “The Prayer”, mas raramente há uma constância que permita o delírio e a agitação ao longo de cada faixa. Agora há significados, mais do que em Silent Alarm. Há um activismo latente na forma de rock, que lhes pode valer o epíteto de “chatos”. Mas, mais que mandatários da sua geração, são o espelho da dispersão da juventude numa série de intentos, da expressão política à preguiça, do medo do futuro à sublimação do presente. O que, de certo modo, acaba por se ajustar à realidade do século que há pouco principiou.



Nota: 7/10