sábado, março 24, 2007

Bandidos e Mocinhas

Nelson Motta, brasileiro, escritor e jornalista entre outras actividades, autor do romance O Canto da Sereia, assina Bandidos e Mocinhas, o seu mais recente livro. Romance em género de policial, Bandidos e Mocinhas é apresentado como “o melhor estilo Pulp Fiction”. Aparte os provérbios, este é um livro bem intencionado. Um shake mal batido que mistura a falta de linearidade de Pulp Fiction com o ambiente realista de Cidade de Deus. O Cinema não é, aliás, trazido ao acaso, já que o livro apresenta-se assim, mesmo, cinematográfico. Quer em termos descritivos, quer na narrativa. É pena que o escritor não se mostre nenhum Quentin Tarantino.

Bandidos e Mocinhas começa a partir da morte de Lana Leoni, uma actriz, em plena representação da sua mais recente peça de teatro. Daqui se parte para a controvérsia da peça, para os vários relacionamentos cruzados numa trama que até poderia ter um bom desenvolvimento, não fosse uma terrível falta de ideias. Assim se vão conhecendo as várias personagens. Lana Leoni, a actriz provocadora e estereotipadamente ganaciosa, capaz de tudo pelo seu sucesso. George, o seu marido extravagante, voyeurista e enigmático. Dida, o fora-da-lei culto e desenvolto, mas com graves problemas sexuais. Marlene, a detective atraente e competente, encarregada do caso. Pedro, o ex-amante de Lana, devoto de uma vida recatada e isolada.

O que mais impressiona pela negativa é a distância entre o que é e o que podia ter sido. Bandidos e Mocinhas fica-se por um livro redundante, repleto de clichés, sem ideias criativas, nem desenvoltura narrativa. Uma linguagem desbragada e por vezes demasiado coloquial, que porventura assentaria bem num suporte dado por uma história consistente. No fundo, como faz Tarantino no filme que a capa insiste em citar. Aqui, tudo soa a fácil e demasiado óbvio. A começar pelo título. Tudo culmina com a falta de um clímax, o que é agravado por estarmos a falar de um policial, género que por excelência cozinha os acontecimentos até um borbulhar final de revelações. Motta começa por alinhar no género. Falha, redondamente, quando a previsibilidade e a falta de uma noção maior assassinam, não a personagem, mas o livro.

O paradigma de todo o livro será um relacionamento entre duas personagens que acontecerá no final do livro. Clichés amorosos à beira-mar fazem suspeitar de ideias irónicas do autor. Ou da sua necessidade de disfarçar uma final mal conseguido, mal desenvolvido e com pontas soltas. Nada disso. Tudo parece apenas inaptidão. Consegue Bandidos e Mocinhas alguma vez animar? Sim. Tem alguns traços interessantes, especialmente quando apela aos galões tarantinianos que apregoa. Qualquer coisa mais que isso é um pedido exagerado. Com certeza, o autor não lamentará mais que o leitor.

Título: Bandidos e Mocinhas
Autor: Nelson Motta