domingo, dezembro 17, 2006

Less Than Zero

Less than Zero marcou o início da carreira literária de Bret Easton Ellis, embora se tenha destacado não como o livro que antecedeu The Rules of Attraction ou American Psycho, mas como um excelente começo no seio da literatura americana.

Explorando um tema que acaba por ser recorrente nos seus livros seguintes, Ellis consegue subverter a realidade no modo como escreve: a alucinação e a paródia de sentimentos estão ao serviço da realidade alternativa que procura descrever. E consegue-o com um perfeição assustadora para o jovem de apenas dezanove anos que era.

Este livro é narrado sobre a forma de um registo semelhante a um diário ou a um caderno de anotações. Quem nos fala é Clay, um rapaz adolescente de dezoito anos que está a gozar as suas férias de Inverno em Los Angeles, depois de ter desperdiçado o semestre na sua faculdade por entre festas, sexo e droga. A casualidade destes eventos é proclamada ao longo de todo o livro, desde o início até ao banal desenrolar da acção nas mais variadas circunstâncias.

Para Clay, a sua vinda a Los Angeles concretiza-se em mais festas, em mais álcool, em mais valium, em mais cocaína e em muito mais sexo. Não consegue compreender até que ponto está ou não apaixonado por Blair, uma ex-namorada, embora mantenha relações de uma noite com rapazes bronzeados que conhece nas mais diversas festas. Não compreende até que ponto se voltou a relacionar com os seus amigos, mas fica em casa sob o efeito de dois ou três valium.

Os contactos que estabelece rumam sempre às novas doses de cocaína, aos novos dealers e a novas situações ilícitas. A crueldade com que tudo isto é descrito é imensa: não há qualquer tipo de censura quando se descreve a sub-cultura oca que é uma constante na vida de Clay e dos seus amigos. Para ele, nada do que possa testemunhar nas imensas mansões ou locais frequentados pela classe alta a que pertence o sensibilizam.

Tudo prossegue, tudo se arrasta até ao ponto em que o leitor já se contorce com o mundo que o narrador lhe apresenta. E até ao dia em que este contacta com feridas muito escondidas, com as realidades novas dos seus antigos amigos: vê-se, então, forçado a admitir a sua fragilidade, e a história prossegue assim, oscilando entre comprimidos, tonturas e a incapacidade de fugir através da alienação química. O que prova a fragilidade do consumidor de drogas, do jovem rico, da aparente superficialidade orientada por convenções igualmente superficiais.

Talvez se possa dizer que a pouca consistência da história é um trunfo fulcral no que diz respeito à tenacidade e ao efeito de caos que se sente ao ler as páginas deste livro, uma vez que Ellis afasta por completo as teorias que, segundo se pensa, orientam o nosso comportamento. E isto é efectivamente um ponto positivo: a linha mestra deste livro é a narração sem escrúpulos do crescimento e da passagem à idade adulta no seio de uma cultura de dólares perfeitamente estagnada.

Como última referência, o título não podia ser mais apropriado e a remete o leitor à conhecida música de Elvis Costello, muitas vezes abordada no decorrer da narrativa. Em suma, temos nas mãos uma excelente estreia para Bret Easton Ellis e um marco surpreendente na literatura americana do século XX.


Título: Less Than Zero

Autor: Bret Easton Ellis