domingo, abril 01, 2007

Tones of Town


O bom das etiquetas é que não nos perdemos. Sabemos ao que vamos, sabemos o que procurar, onde arrumar tudo na nossa mente tão sedenta de divisões lineares. O mau é catalogarmos tudo por secções, não deixando espaço a novas abordagens, nem ao desconhecido. Com os Field Music, a caneta hesita entre escrever Indie-pop ou Pop experimental, mas, numa ou noutra, a palavra Pop surge tanto esclarecedora como aterradora. Se é verdade que é de Pop que é feito este álbum, é de Pop também que morre este álbum. Ou de falta dela.

Diz o proverbial povo que cada um se deita na cama que faz. A cama dos Field Music é rendilhada, complexa, altamente instrumentada e arranjada. São arranjos atrás de arranjos, instrumentos que se introduzem por dá cá aquela palha, que, se nalguns momentos enriquecem um álbum morno, na maioria lhe retiram a centalha de que é feita a Pop. A acessibilidade. Ninguém os poderá acusar de serem repentistas, de procurarem ser uma next-big-thing. Ninguém os poderá, também, acusar de serem simplistas e redutores, de se imiscuírem na massa indistinguível de bandas Pop-a-piscar-o-olho-a-qualquer-coisa. Mas dificilmente alguém os acusará de empolgar alguém vivamente.

O álbum, segundo na carreira da banda, é Tones of Town. David Brewis, Peter Brewis e Andrew Moore são os responsáveis pelo mesmo, filhos de Sunderland, de onde também são provenientes os conhecidos, e ligados aos Field Music, Futureheads. Voltando ao álbum, este abre com “Give it Lose it Take it”, amostra exemplificativa, mas de superior qualidade, da génese do trabalho. Composição esforçada, bonitinha e com valor, sem grande ânimo, mas, quando ouvida atentamente, convincente. Tal como a seguinte “Sit Tight“, onde se começa a sentir o cheiro a cidade que percorre o álbum e tem ênfase no título.

“Tones of Town” traz final mais empolgante que, por escassear, é bem vindo. “A House is not a home” cheira a década de 90 britânica por todo o lado enquanto “Kingston” é banda sonora de Soap Opera de serão inglês. “Working to work” traz pormenores vocais engraçados e antecede o single, “In Context”. “A Gap has appeared” é nova experiência interessante que não tem paralelo até ao final morno de ”She can do what she wants”. Passa escorreito este Tones of Town dos Field Music. Tal como a vida na cidade. Se for metáfora da vida sob a forma de música, está bem visto. Se, como parece, é só um álbum de Indie-Pop a sobrecarregar no arranjo, está salgado demais.
Título: Tones of Town
Autor: Field Music
Nota: 6/10