segunda-feira, janeiro 15, 2007

Voz Própria #3 - The Weatherman

Alexandre Monteiro, gaiense, é o nome por trás de The Weatherman, músico que trilha os caminhos da Pop com uma integridade estética e qualidade invejável. É sobre o cd de estreia, Cruisin'Alaska, de 2006, e a sua participação no projecto Acorda! que incide a entrevista que se segue.

1.O teu cd de estreia, Cruisin’Alaska, tem vindo a ser alvo de críticas muito positivas, quer a nível nacional (Y, por exemplo), quer internacionais (PopMatters ou HybridMagazine). Como lês tudo isto e que peso tem a imprensa do género para ti?
Acima de tudo, foi importante a imprensa ter falado no disco porque de outra forma teria passado completamente despercebido, embora o trabalho da editora de início tenha sido bastante incisivo. Isso fez com que o disco passasse uma imagem de si mesmo como um objecto de culto, para minorias, o que não deixa de ser interessante, mas impediu que tivesse uma visibilidade exterior ao meio musical. As críticas são sempre bem vindas, sejam positivas ou não, mas tento sempre distanciar-me e nunca as levar demasiado a sério. Não faço música para agradar a críticos, nem para agradar ninguém em particular, faço-o sobretudo para mim.
2.A crítica internacional faz-te sonhar com novos públicos? Ou antes, a internacionalização da tua música é um objectivo claro para ti?
Infelizmente a perspectiva de ter novos público não depende só das críticas internacionais. Depende muito mais de trabalho editorial ou de distribuição. Mas sim, gosto de pensar que a minha música tem condições para ser bem acolhida um pouco por toda a parte. O meu objectivo é dar um passo de cada vez e tentar sempre fazer o melhor possível o meu trabalho, que se for realmente bom, vai acabar por dar frutos. E a internacionalização poderá ser um deles.
3.E a nível do público, quer na venda do cd quer no feedback dos concertos, como tem sido a aceitação ao álbum?
A avaliar pelos concertos recentes, o público fiel acaba sempre por aparecer. Pelo menos, a avaliar pelo último concerto, no Maus Hábitos, a casa estava praticamente cheia e toda a gente saiu de lá com ar satisfeito. Foi uma boa festa. Em relação a vendas, não faço a menor ideia. É um mistério até hoje.
4.A tua música é uma revisitação clara, mas completamente salutar, do universo dos Beatles e dos Beach Boys. Incomoda-te que as referências ao teu trabalho passem constantemente por aí? Não temes uma rotulação excessiva da tua música?
Bom, se existe uma rotulação excessiva, talvez o maior responsável por isso seja eu. Acho saudável que as raízes do meu trabalho sejam assumidas, caso contrário cairia no risco de ser comparado a artistas com os quais não sinto afinidade, e isso causa-me desconforto.. Na verdade ser influenciado por essas bandas tão basilares da música popular pode significar um mundo de possibilidades, mas de facto aprendi tanto ao ouvir os seus discos que sinto que lhes devo alguma coisa. Possivelmente com os meus discos futuros isso se irá dissolver um pouco, mas sinceramente não me incomoda nada assumir essas influências.
5.Numa entrevista à Rua de Baixo, disseste que também chegaste a fazer músicas num universo mais punk, ao mesmo tempo que ias descobrindo os Beatles. O que te levou a escolher um som em detrimento do outro?
Hmm, julgo que não foi bem isso que disse ou que queria dizer. De facto foram os Beatles que me fizeram escolher ser músico e compositor porque desde muito novo eu sonhava ardentemente eu ser como eles, no aspecto artístico. Foram eles que me cravaram a noção de que o músico pop perfeito é aquele que consegue ser muito popular mas ao mesmo tempo manter intacta a integridade artística. Penso que isso é o mais difícil de atingir. Nunca senti que alguma vez escolhesse uma orientação musical em detrimento de outra. Nunca fui pessoa de gostar da banda da moda, mas por outro lado nunca fui muito de analisar discos a frio. Cedo cheguei à conclusão que o meu lado punk tinha mais a ver com o lado sociológico da coisa do que propriamente com a música.
6.Vais, em parte, buscar o nome do teu alter-ego, se lhe posso chamar assim, a uma frase de uma música de Dylan, “you don't need a weatherman to know which way the wind blows”. Apesar disso, surges com uma música direccionada num sentido completamene diferente da Pop usualmente feita em Portugal. Por que caminhos gostavas que a música nacional enveredasse e qual é o teu papel nesse processo?
Chateia-me profundamente quando alguém chega com a conversa tão velha e gasta da identidade perdida da música portuguesa. Por essas e por outras é que países como a Suécia vão-se tornando relevantes no panorama internacional e nós andamos afundados neste nosso quintal a dizer mal do nosso próprio umbigo. Eu só distingo a música boa da musica má. Estou-me total e absolutamente a borrifar para uma noção de identidade cultural portuguesa a nível da música popular. Como tal, o caminho que gostava que a música portuguesa seguisse é o de ter a melhor música possível, e que tenha o máximo de visibilidade e o meu papel é dar esse contributo que é o meu trabalho.
7.Entretanto, participaste na excelente iniciativa Acorda! Nova música portuguesa em mp3. Como é que surgiu a tua participação neste projecto?
Por convite das pessoas envolvidas.
8.Na mesma entrevista que já citei, li ainda que classificaste a música portuguesa de “aborrecida e sem chama”. Como vês a nova produção musical portuguesa, nomeadamente aquela que participou contigo em Acorda! Nova música portuguesa em mp3?
Eu não me estava a referir à música propriamente dita, estava-me a referir mais a tudo o que gira à sua volta. Falo do desinteresse generalizado pelo público em relação à música nova, às novidades. Falo da falta de canais de divulgação. Ás vezes tenho a sensação de os músicos fazem música para músicos e pouco mais. Para a maior parte dos mortais, a música portuguesa é só fado, Rui Veloso, Xutos, Dulce Pontes e Madredeus. É isso que torna o panorama português aborrecido. O desinteresse e falta de meios para que as coisas realmente excitantes, actuais e relevantes sejam devidamente apreciadas.
9.Esse projecto reporta também para a importância cada vez maior de instrumentos de divulgação como o MySpace e até para a questão do download de mp3. Como vês todas essas questões?
Vejo que a indústria discográfica tal como a conhecíamos está a chegar ao fim. Instrumentos como o myspace são apenas o início de uma revolução que já está a acontecer. Acho que é a própria indústria discográfica que está a dar tiros nos pés, consequentemente. Ter os preços dos discos tão altos, por exemplo, só faz com que a pirataria e o negócio ilegal dos discos ganhe cada vez mais força.
10.Outro dos meios, felizmente cada vez mais em voga, para a divulgação da nova música portuguesa é a rádio. Julgas existir um apoio suficiente da parte das emissoras nacionais? E como vês a inexistência dos mesmos apoios por parte da televisão, mesmo a estatal?
Acho totalmente vergonhoso o papel das rádios. Talvez a honrosa excepção seja a antena 3, porque dá a conhecer novos lançamentos, com uma selecção mais ou menos saudável em termos de qualidade. De resto temos um panorama radiofónico que me envergonha profundamente. Qualquer rádio (privada ou estatal) que passe os êxitos de há 20 anos, todos os dias, e se recusa a passar bons discos recentes de música feita em Portugal (como é o caso do último do Sérgio Godinho), não deixa de ser uma rádio profundamente medíocre.
11.Nos últimos tempos surgiu uma polémica sobre a música portuguesa cantada em inglês. Revês-te nessas críticas? Sentes alguma necessidade de te exprimires em português?
Não, não me revejo. Sempre achei isso uma falsa questão. É um facto que muitas bandas recorrem ao inglês para disfarçarem um vazio de ideias, mas cada caso é um caso, não se pode generalizar. Atente-se ao trabalho de artistas como o Old Jerusalém, por exemplo. É bem visível que aquilo é feito de forma genuína. No meu caso, é a mesma coisa. Tento ser genuíno. Gosto do inglês porque se adequa melhor que outras línguas ao tipo de melodias que eu faço. Mais uma vez, o que me interessa é a música boa, são os bons discos, os bons trabalhos. Dou exactamente o mesmo apreço a quem o faça bem em português, em inglês ou noutra língua qualquer.
12.“If you only have one wish, better make it big.” Por ultimo, qual é o teu desejo para 2007? Gostava de tocar em Vilar de Mouros no mesmo dia em que toca esse grande génio da música pop: Brian Wilson

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Adorote!

9:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

adoro a musica.. amo o baixista

9:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

curte este som...
e as vozes...

http://www.megcriativos.com/08%20Faixa%208.mp3

10:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Excelente album que merece mais visibilidade.

11:33 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bom trabalho. Continua assim.

11:36 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home