segunda-feira, janeiro 02, 2006

Non, ou A vã glória de mandar


Terrível palavra é um Non.

Pe. António Vieira

Bem vincada como obra de autor, com o cunho muito próprio de Manoel de Oliveira, Non, ou A vã Glória de mandar é um filme de 1990, filmado entre Portugal e Senegal, apresentado em França, por altura do festival de Cannes. E se a crítica europeia, fascinada com a perspectiva de uma visão portuguesa por um português apartir das suas derrotas, acolheu bem o filme (Prémio Especial da Crítica Internacional desse ano, tendo Manoel de Oliveira sido alvo de uma homenagem especial por parte do juri), a verdade é que o público português continuou fugido da obra do seu realizador mais conceituado.

Non, ou a vã glória de mandar é um filme cuja intriga remonta a 1974. Em África, um batalhão português combate na Guerra Colonial e, quer para animar e distrair as suas tropas, quer para se entreter a si próprio, o tenente Cabrita vai contando pormenores da história de Portugal aos seus soldados. Correm-se assim, através de saltos espaço-temporais, pormenores interessantes como a história de Viriato, as tentativas de unir Portugal e Espanha, a batalha de Alcácer-Quibir ou uma recriação da Ilha dos Amores de Camões.

Por entre todo este Drama/Documentário, vai-se percebendo o tom moralista com que Manoel Oliveira embebe o filme e a analogia entre toda a história de sede de conquista e a Guerra Colonial que aqueles próprios soldados vivem. Esta última faceta do filme é bem expressa na batalha de Álcacer-Quibir (seguramente, uma das maiores e mais bem caracterizadas cenas de todo o cinema português) onde se antecipa o fim inglório da luta que se vive enquanto aquela história se conta. Todo o filme é envolto por esta mística pessimista, onde Portugal sempre acaba penalizado por uma sede irracional de poder.

Apesar do seu cunho pessoal em matéria de pormenores de qualidade, Non, ou a vã glória de mandar conta também com o pior de Manoel de Oliveira. Perdida qualquer noção de realismo, Oliveira envereda por um caminho sem retorno desde o princípio do filme onde prefere a teatralidade. Ao ver o filme tem-se a clara impressão de se estar a assistir a uma peça de teatro filmada. E se esta característica lhe favorece em alguns planos, retira-lhe todo o interesse que uma peça de vasto interesse poderia ter. Expoente máximo de tudo isto, é a cena do cavaleiro suicída protagonizada por Ruy de Carvalho. Especial atenção para o brilhante trabalho de Luis Miguel Cintra no papel principal, ele que foi galardoado neste 2005 que acaba de findar com o Prémio Pessoa.

Título: Non, ou A vã glória de mandar
Realizador: Manoel de Oliveira
Elenco: Luis Miguel Cintra, Diogo Dória, António Sequeira Lopes, Miguel Guilherme, Luis Lopes, Carlos Gomes, Ruy de Carvalho, Mateus Lorena, Luis Mascarenhas e Catarina Furtado.
Portugal, 1990

Nota: 5/10