domingo, janeiro 28, 2007

Scoop


Depois do badalado Match Point, Woody Allen regressa às salas de cinema com a sua mais recente película, que, à semelhança do seu último filme, foi totalmente produzida e realizada em Londres. Os amantes do realizador nova-iorquino já não estranham a ausência das árvores de Brooklyn e a substituição de Manhattan pela metrópole inglesa. Na verdade, Allen viu-se quase obrigado a filmar no Reino Unido, país que lhe financia uma tela com os actores que ele escolhe e com o guião que ele escreve. Ainda a propósito do guião, recorde-se que Scoop foi escrito propositadamente para integrar Scarlett Johannson numa personagem cómica, muito ao jeito da fantasia neurótica que, em tempos, Allen deixava a cargo de Diane Keaton.

Apesar de tudo o que se possa dizer, Woody Allen abraça a cultura e a sociedade londrinas de um modo genial, conseguindo em Scoop a sua melhor comédia em muitos anos enquanto realizador e argumentista. A história obedece ao criterioso humor rocambolesco de Allen: conta como uma estudante de jornalismo se envolve numa busca pela verdade, depois de ter sido visitada por um jornalista recentemente falecido. Este jornalista é Joe Strombel, que se lança do barco da Morte para partilhar a sua última notícia bombástica (“scoop”). Aí tudo se complica: enquanto o mágico Splendini (Woody Allen) agita as moléculas da estudante universitária Sondra Pransky (Scarlett Johannson) no seu desmaterializador chinês, o falecido Strombel relata, de um modo vago e sem entrar em detalhes, como o aristocrata Peter Lyman (Hugh Jackman) é o assassino das Cartas de Tarot.

Segue-se, então, uma aventura surreal pelas ruas de Londres, envolvendo personalidades falsas, truques de magia, conspirações e perseguições, muitos mal-entendidos, e sobretudo o brilhante sentido de humor de Woody Allen tão bem impresso na sua personagem! Splendini, cujo verdadeiro nome é Sidney, acaba por se fazer passar por pai de Sondra, numa tentativa de conseguirem desvendar o mistério dos homicídios em Londres. Tudo se desenrola aos tropeções, com muita ironia e nonsense pelo meio, até Sondra se apaixonar pelo seu objecto de investigação. Aí, Woody Allen consegue delinear de uma forma perfeita os contornos sinuosos do guião.

O mais apaixonante neste filme acaba por ser a forma como todos os actores apresentam interpretações fabulosas em papéis que não poderiam ter sido entregues a mais ninguém. Assim, Woody Allen prova ao público como ainda consegue surpreender e arrancar piadas inteligentes e de inspiração genial, enquanto move uma câmara perfeita e sem hesitações.

De um modo geral, e apesar de ser qualquer coisa de extraordinário, Scoop mostra-nos uma Scarlett Johannson num papel diferente do habitual, com óculos e aparelho nos dentes, e uma relação fantástica entre o génio de Allen e a jovialidade de Johannson. Ainda que este filme não esteja ao nível de outras obras de Allen, como Annie Hall, por exemplo, é uma película que, pela boa dose de comédia e de drama, vale mesmo a pena, sobretudo se se é um fã.

"If you put our heads together, you'll hear a hollow noise!" Ninguém diria...


Título/Ano: Scoop (2006)

Escrito & Realizado por: Woody Allen

Elenco: Woody Allen, Scarlett Johansson, Ian McShane e Hugh Jackman.

2 Comments:

Blogger B. said...

Gostei muito do filme, talvez por ser um fã, ou talvez por o filme ser mesmo de bom nível. O narcisismo assumido no filme, é mostrado quando 90% das melhores piadas, é o seu personagem q tem o prazer de as anunciar. Quanto ao filme em si, os 73 anos não deixaram qualquer qualidade para trás, talvez apenas alguma falta de originalidad, isto porque, em termos de diálogos, a sua mestria base, nada falha, mas em termos de história, parece que já segue demasiadas influencias, vi demasiadas vezes o match point neste filme, parece até que ele criou um novo filme com os restos do match point, ou com as ideias que também lhe ocorreram no match point, mas que não saíram no resultado final, seja como for, e repito, acho o filme muito bom. Quanto a comparações, acho que é difícil, estamos já habituados ao mesmo formato, e mesmo quando tudo se torna uma ópera, como em Match Point, o resultado é excelente, para mim, está no top3 de filmes desse ano, e sem dúvidas das obras de Woody Allen também. Recordando obviamente Hannie Hall e ABC do Amor...

2:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

@ b.
por falar de narcisismo. A melhor piada do filme é quando perguntam ao mágico qual é a religião dele e ele diz que nasceu judeu mas que mais tarde se converteu ao narcisismo... muito bom
woody allen no seu melhor, mesmo que sintamos falta de alguma da poesia que ele atinge quando os filmes são de nível genial: rosa púrpura, balas sobre a broadway, interiors, september, annie hall, manhattan, e ainda mais alguns que agora não me lembro...

11:10 da tarde  

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