sábado, outubro 21, 2006

Filme da Treta


Estranha sensação a de sair deste filme. Estranho, pela positiva, poder ver no cinema António Feio e José Pedro Gomes. Estranho, pela positiva, poder revê-los juntos. Estranho, de novo pela positiva, poder juntar a isto as presenças de Marco Horácio, Maria Rueff e José Raposo. Estranho, mas será talvez o aspecto mais positivo de todos, ver uma sala de cinema completamente repleta para ver cinema português. Estranho ainda, apesar disto tudo, a sensação de desilusão face a tudo isto.

Filme da Treta, realizado por José Sacramento (Autor da curta-metragem de 2000, Olhó passarinho) foi visto por mais de 51 mil pessoas no primeiro fim-de-semana de exibição. Tal facto é, por si só, louvável. Como tive oportunidade de referir aquando da análise a Transe, o cinema português torna-se (ou será que sempre assim o foi?) um compadrio de autores, cuja meritoriedade estética e histórica não está posta em causa, mas cuja aptência para perceber e se empatizar com o público escasseia.

Vão valendo, para que o cinema visto em Portugal não se limite ao box-office ditatorial de Hollywood, casos raros como o surgimento de um Marco Martins e a sua Alice, um ou outro Imortais e, infelizmente, estas megas produções apoiadas pela SIC. Contudo, é de louvar quer n’O crime do Padre Amaro quer neste Filme da Treta, a percepção das necessidades de um público (sem) alvo, que originam uma maior afluência. Esperemos que estas boas atitudes possam ser utilizadas com um pouco mais de conteúdo e exigência cinematográfica, para bem do cinema português.

Posto tudo isto, resta Filme da Treta. Com argumento de Filipe Homem Fonseca e Eduardo Madeira, o filme não é mais que uma projecção da conhecida rábula de José Pedro Gomes e António Feio para a tela. Se é verdade que em rádio funcionava maravilhosamente e que em palco era hilariante, numa passagem para o cinema esperava-se que se tivesse em conta isso mesmo, que se estava a fazer um filme, que um filme não é uma peça de teatro. Exige por norma uma história melhor delineada (já que o improviso, uma das grandes armas em palco, morre com os vários takes do cinema), uma maior cuidado na fotografia e algumas diferenças em termos de guião.

Filme da Treta mantém o mesmo tipo de humor, mantém a química entre os dois grandes actores, mantém alguns skectches e gags bem conseguidos, mas esgota-se nisso mesmo. Um filme sem história, onde tudo parece ser uma oportunidade para encaixar uma nova piada. Ainda assim, apesar do muito que o filme fica a dever à categoria de filme, mais uma oportunidade para ver dois dos melhores actores de humor da sua geração (a par de Miguel Guilherme). Para quem recentemente viu 2 Amores, no Teatro Villaret (revisto neste blog por Ensaio), Filme da Treta só pode ter um ensonso sabor a muito pouco.

Título: Filme da Treta
Realizador: José Sacramento
Elenco: António Feio, José Pedro Gomes, Maria Rueff, Marco Horácio, José Raposo, António Melo, Joaquim Nicolau e Rui Paulo.
Portugal, 2006

Nota: 5/10

8 Comments:

Blogger Laranjinha said...

É filme que não me entusiasma! Acho que deve ser uma grande treta.

10:56 da manhã  
Blogger Totoia said...

A mim soa-me a galinha de ovos de ouro. Tb não me entusiama.

4:52 da tarde  
Blogger Gustavo Jesus said...

É de facto explorar ao máximo o filão da quimica entre os dois actores. Depois da rádio, televisão, teatro e cinema, que mais "espetáculos da treta" estão para vir. Ainda assim, como cinema português e como possibilidade de ver os dois juntos, tem o seu interesse.

5:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O filme realmente podia ser melhor, mas a nota que lhe deram, 5/10, não é justa, merece um pouco mais. É que mesmo não sendo brilhante é a melhor comedia feita em Portugal nos ultimos 20 ou 30 anos.

3:59 da tarde  
Blogger Gustavo Jesus said...

A verdade é que tal distinção chega a ser complicada de fazer, dado o pouco cinema do género que se realiza em Portugal. Ainda assim, compreendo o que quer dizer, mas julgo que isso advem do factor de os ver trabalhar juntos. Eles sim são a melhor dupla de comédia dos ultimos 20 ou 30 anos. Bastante melhores em Teatro, por sinal. Quanto ao filme em si lamento discordar, mas não consigo achar uma boa comédia a uma sequência desligada de Sketches.

12:12 da manhã  
Blogger TONY, Duque do Mucifal said...

Fui ver o filme pelos 2 actores em si. Já imagina de antemão que o argumento fosse nulo ou próximo do zero. Arranquei umas boas gargalhadas porque conteudo não havia lá nenhum. Mas é satisfatório que o cinema portugues consiga encher salas e entusiasmar novos projectos. Por vezes é necessário realizar projecçções comerciais para dar origem e oportunidade para outros projectos. Não devemos castar o filme á nascença. Devemos perceber o seu enquadramento. Poderá, inclusive, funcionar como bola de enve para a peça "2 Amores" no Teatro Villaret.

10:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Uma TRETA...

A perder...

Miguel

1:08 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

acho q o fim ta mal avaliado... merecia bem mais... tendo em conta que foi 1 dos melhores filmes d comedia portugues!
acho que esta muito bem trabalhado...
e quanto a nao ter historia, isso varia d pessoa para pessoa... eu pessoalmente percebi a historia...

gostei bastante;)

2:52 da tarde  

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