quinta-feira, dezembro 29, 2005

The King is alive


Time goes by so slowly for those who wait
No time to hesitate.

E assim faz Madonna. Numa altura onde a MTV prolifera, o que invadia os nossos lares antes do novo cd de Madonna, Confessions on a dance floor, era a última vaga Hip-hop, o ritmo do momento. Rappers com atitude brejeira, de pistola nas calças, com o boné meio do avesso, rodeado daquilo que em Portugal se convencionou chamar de "damas", raparigas de aspecto deslavado e atiradiço a roçarem-se nos mencionados rappers. E a coisa resulta.

O que até era um bocado ingrato para Madonna. Ela a eterna diva Pop, apesar dos dois catraios, sex-symbol ad eternum, tinha criado esse mesmo conceito de música. A provocação, a líbido e o corpo são parte integrante da música. E se o tinha criado e consagrado, quer em palco, quer na própria música (lembram-se de Like a Virgin?), Madonna parecia até ter-se debruçado na sua descendência. Passado por um beijo, eis que o testemunho ia para Britney Spears. E Britney percebeu o essencial: quanto mais badalhoco, melhor. Esqueceu-se de três coisinhas:
1. Também é preciso ter música.
2. Não engordar até personificar a expressão "como um texugo"
3. Ter classe.

Posto tudo isto, eis que o panorama da cena musical Pop, é brutalmente dominado pelo Império dançante do Hip-Hop. O ritmo que se procura nas discos é o agitar descomplexado de Black Eyed Peas, as letras pungentes, agressivas e meio iletradas de 50 Cent estão na mó de cima e a roupa retro está fora de moda, pedindo-se algo mais à Eminem, o Sr. Marshall Mathers. E o que faz Madonna? Vai buscar um sample de Gimme, gimme, gimme dos Abba para fazer o seu single, faz um album todo ele dançável, com um rosto completamente setentão e faz um videoclip onde ensina, via um sortudo rádio, a arte que ela própria criou.

Quando se fala de Hung Up, não se fala de um single, mas de O single. Mais uma vez, Madonna parece querer ensinar aos meninos de pistola em riste como fazer um verdadeiro single. Hung Up passa em todo o lado. Nas discos, em bares, no metro, nos supermercados, em nossas casas e, o que é mais impressionante, nas nossas cabeças. Império? Só Madonna.

Confessions on a dance floor não engana. É um álbum típico. Um daqueles albuns de música dançável que é estreito e corrido, fluído do princípio ao fim, que se ouve sem grande esforço mas também sem grande entusiasmo. Baseado numa sonoridade techno dos anos 70, chega a soar a remix das músicas dessa altura, não sendo por acaso que a escolha recaí sobre os Abba. Contudo, graças ao que parece ser um trabalho essencialmente de produção, Madonna consegue trazer um álbum que escapa ao label de revivalista e que se adequa bem às necessidades da pista de dança.

De Nova Iorque para o mundo. You Rappers and Hip-Hoppers: The King is alive.

Título: Confessions on a dance floor
Autor: Madonna

Nota: 6/10