quarta-feira, março 21, 2007

Inside In/Inside Out

Inspiraram-se numa conhecida música de David Bowie para o seu nome e agora chega o seu primeiro trabalho. Chama-se Inside In/Inside Out e é um nome divertido para um álbum divertido. Quanto aos The Kooks, a banda inglesa chega com um brilho de um rock moderno e com um toque de punk, embora se note uma grande sede de inovação ao longo das catorze faixas deste álbum. Ficaram conhecidos depois do cover de Crazy (original dos Gnarls Barkley) e estes quatro músicos assumem-se como um novo rosto na música britânica, trazendo muito de fresco e revigorante ao panorama musical.

Herdaram o sentido clássico de David Bowie e a sucessão harmónica dos Beatles, pegaram no charme inovador dos The Smiths e na vibração rebelde dos pioneiros do punk. Congregaram muitas (boas) influências e mantiveram uma face barbeada, cheia de peculiaridade. Trouxeram consigo formatos conhecidos e rechearam-nos de um sentido de humor muito próprio. Lançaram-se na música e nos olhos dos críticos com uma ferocidade interessante. Parece suficiente para perguntar porquê.

Com Inside In/Inside Out, os The Kooks trazem uma ligeireza e uma sobriedade muito característica, sem porem de lado a inovação e um ar desempoeirado. Luke Pritchard assume-se confiante enquanto vocalista e guitarrista, Max Rafferty pega no baixo, Hugh Harris apresenta-se na guitarra, e Paul Garred explora a bateria, sem grandes hesitações na mistura de rock e algum punk.

Seaside é a primeira faixa do álbum, conseguindo ser quente e íntima, sem nunca chegar a ser mole e aborrecida. Em Sea The World, a bateria de Garred traz-nos uma tempestade muito bem conseguida. Já aqui se adivinha uma grande espiral de ideias e uma linha mestra que orientará o resto do disco. As faixas seguintes trazem uma reminiscência de Blur, muito visível em Sofa Song, em Eddie’s Gun (que funcionou como single) e em Ooh La. São músicas com um enorme potencial para soar bem nos ouvidos de quem as escuta, deliciando uma vasta área de ouvintes através de guitarras sacudidas e de um andamento veloz. You Don’t Love Me é uma faixa muito ao estilo dos Arctic Monkeys, embora a letra caia um pouco no lugar-comum e num estilo muito próprio ao longo do álbum.

Tal como em Seaside, temos Want You Back com um ar muito certinho e muito sóbrio. No entanto, perde-se a solenidade em Jackie Big Tits, uma faixa que traz à memória histórias do passado, raparigas precoces, e a música de Franz Ferdinand. Naïve é uma faixa muito fresca, muito inovadora, muito próxima do objectivo que os The Kooks tinham prometido alcançar, cheia de detalhes, de pormenores musicais, com um ritmo e uma percussão estimulantes.

Os The Kooks são excêntricos no maneirismo, nos arranjos e na interpretação. Ainda assim, poderiam ter um álbum mais característico, menos apegado às influências, o que não se torna mau de todo, uma vez que condensa bandas de qualidade numa tentativa de inovação. O que é certo é que em algumas faixas se sente a falta de qualquer mais própria, embora Inside In/Inside Out entre em parâmetros onde bandas britânicas melancólicas como os Coldplay não ousam entrar.

Para já, neste disco, ficámos todos com a impressão de que esta é uma banda promissora, com imenso talento e imensa criatividade. Esperamos agora o próximo álbum, quem sabe com menos leituras fáceis de grandes influências. Apesar de tudo, eis um tributo à música feita no Reino Unido, eis uma banda que se pode apelidar de fruto de algumas gerações de bons músicos, mantendo em vista um horizonte bastante apetecível. Sempre com sentido de humor.


Título/Ano: Inside In/Inside Out (2006)

Artista/Compositor: The Kooks