segunda-feira, janeiro 15, 2007

Grey's Anatomy (Volume 2)

É do conhecimento geral que a série Grey’s Anatomy (A Anatomia de Grey), um original da gigante americana ABC, é um sucesso em termos de audiências, quer nos Estados Unidos, quer em Portugal. Apesar da indecisão da televisão portuguesa relativamente a um horário estável, a série passa a horas certas no canal FoxLife, disponível apenas para quem queira desembolsar uma avultada quantia por meia dúzia de canais. Independentemente de guerras televisivas, de telenovelas e de importações brasileiras, A Anatomia de Grey obedece à fórmula série, prendendo o espectador num vício do qual é quase impossível sair. Razão mais do que suficiente para a Hollywood Records lançar no mercado, aquando do final da temporada, o segundo volume da banda sonora da série.

Para quem conhece, há que reconhecer a excelente escolha das músicas, mesmo se, ao escutá-las de novo, não venha à memória o momento exacto em que estas tocam na série… É de realçar também que a série prima por vários motivos, embora garanta uma banda sonora que nunca é desadequada, em que a música consegue levar a melhor e fazer o espectador sentir exactamente o que se pretende. E não é fácil brincar com sentimentos. Por todos estes motivos, destaco este disco como uma das grandes colectâneas do universo televisivo, o que não implica que se tenha de ser um fã incondicional da série ou mesmo possuir um exacerbado conhecimento da pop culture. Um único senão, que não atingiu as terras lusitanas, foi o atraso com que este disco saiu relativamente ao final da temporada.

O álbum tem How to Save a Life dos The Fray como um excelente início. A música foi usada cerca de dez minutos, com especial enfoque no refrão. Apesar de não se escutar quase nada na série, fica a carga emocional da própria música: o piano começa com uma melodia simples, que fica no ouvido, a linha cantada assenta numa voz fantástica, tudo isto sem se ter uma música complexa e demasiado arranjada. Flúi bastante ao escutar, decora-se facilmente e, melhor do que tudo, mexe com qualquer coisa.

Moonbabies trazem War on Sound, a segunda faixa, muito ao estilo dos The Cranberries, sem os floreados célticos. O baixo faz uma segunda linha melódica muito interessante e a voz masculina realça o que se sente. O refrão é um exemplo muito bom para compreender como funciona a lógica desta banda sonora, como a música consegue estar ao serviço da emoção. Do mesmo modo, temos a crescente harmonia no órgão e na guitarra por parte de Jim Noir em I Me You, numa música onde as segundas vozes trazem uma reminiscência de como se transporta qualquer coisa de muito humano para a partitura, sem se ser aborrecido e sem cansar… afinal, não se pode dar ao luxo de perder o espectador numa cena crucial.

Kaboom! de Ursula 1000, Monster Hospital dos Metric e Sexy Mistake dos The Chalets trazem o bambolear sexy das reviravoltas sentimentais da série. Escuta-se em Kaboom! o beijo de fugida na sala de operações deserta, ouvem-se as correrias dos boatos de quem dormiu com quem por entre as notas de Monster Hospital, e as trocas de olhares dançam em Sexy Mistake.

Anya Marina traz a calma em Miss Halfway, com poucos recursos, mas com uma guitarra alinhada e uma percussão ajustada à sua voz doce e sensual. Universe & U insurge-se como uma desconhecida versão acústica por parte dos britânicos KT Tunstall, conseguindo arrancar ao dedilhado na guitarra um momento de rara beleza: a modulação da melodia da voz é fantástica quando conjugada com os acordes espalhados na tenuidade das cordas.

I Hate Everyone, da responsabilidade dos Get Set Go, tem a letra mais interessante de todo o álbum, cheia de um sentido de humor próprio da cena que a acompanhou. O ritmo é adequado à vertente curiosa da voz, a oscilação da guitarra é brilhante e o refrão consegue mesmo surpreender. Um pequeno e bonito embrulho cheio de ódio.

Jamie Lidell arranca com Multiply, num estilo mais funk e aconchegável, e Kate Havnevik canta Grace na sua voz etérea e cheia de significado. Em Multiply assiste-se a um reboliço que bebe muito da harmonia, ao passo que Grace assenta sobretudo no violoncelo a realçar a linha melódica orientada pelo serpentear da voz de Havnevik. O contraste bipolar entre a euforia e a melancolia é um dos deliciosos desequilíbrios intencionais oferecidos pelas destacadas interpretações dos actores do Seattle Grace Hospital.

How We Operate destaca-se do resto do álbum sobretudo pela ideia, de contornos exóticos, e pelo uso da cítara. O início desta música de Gomez parece um tanto-quanto esotérico, mas à medida que se progride na audição, encontramos vestígios mais ocidentais, como uma guitarra eléctrica bem temperada e uns quantos efeitos electrónicos. Para fechar o disco, os populares Snow Patrol cantam Chasing Cars, uma faixa poderosa e cheia de sentido: a progressão até ao avassalador refrão é notável. Mais uma vez, não só é possível converter em música o sentimento, mas também as imagens de uma série que, felizmente, parece ecoar em terras de Portugal.

O mais notável neste CD é talvez o facto de se esquecer o fenómeno de audiências para haver efectivamente uma concentração no poder da partitura enquanto enquadrada no televisor. Combinando artistas independentes, bandas populares, vozes a descobrir e versões acústicas de músicas já conhecidas, Grey’s Anatomy Volume 2 consegue o que poucos conseguem: trazer ao público o sentimento que não se serve apenas de palavras, de cenários e de alucinantes cenas em salas de operações. Música independente de actores, mas dependente de sentimentos, como se supõe que seja.


Título: Grey's Anatomy Volume 2

Artista/Compositor: The Fray et al.

Ano: 2006

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

E surpreendentemente, a anatomia de grey na sua 3a temporada está cada vez melhor em termos de banda sonora... em relação as musicas que referes, eu destaco a musica Grace de Kate Havnevik, usada por 2 vezes, em episodios distintos da 2a temporada... Achei esta musica muito muito forte... Mas adoro-as todas!! Faço download religiosamente de todas as musicas que aparecem na série. da 1a à 3a temporada, de momento estou actualizada :) Mas eu sou uma grande viciada em anatomia de grey!!

Nocas

3:09 da manhã  
Blogger Elenita Rodrigues said...

How to save a life é... algo.
Post legal.

Abs.

2:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Oi!Alguém me sabe dizer qual a música que deu num episódio da terceira temporada,acho que foi num dos episódios do ferry...Só sei uma parte da música que é 'you tell me that you love me but you won't see me again'.Bigada :p

4:32 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home