sexta-feira, novembro 17, 2006

The Rules of Attraction (As Regras da Atracção)


Depois de Less Than Zero, Bret Easton Ellis apresenta a sua segunda obra, As Regras da Atracção. Apesar de o seu livro mais conhecido ser, provavelmente, American Psycho, Easton Ellis traz algo de muito peculiar à literatura americana do século XX com The Rules of Attraction, conseguindo quebrar o mito, quase profundamente enraizado, de que os grandes vultos desta Arte nos E.U.A. se consumiram apenas no seu tempo.
A acção decorre num campus universitário em Nova Inglaterra, nos E.U.A., e tem como personagens narradoras jovens da alta sociedade americana dos anos oitenta. Nesta década tão sui generis, o autor recorre ao alucinante trocar de personagens narradoras, usando como analogia a panóplia musical e química correspondente ao período, para envolver o leitor numa teia complexa centrada numa aranha tão pequena e simultaneamente tão nociva: a juventude.
Não se pense, porém, que a banalidade do enredo ofusca a intensidade ao nível das personagens, uma vez que mergulhamos numa realidade tão surreal, repleta de seres profundos, cheia de tanta coisa e simultaneamente de nada. Quase parece inventada para perturbar o leitor, à boa maneira do polémico Easton Ellis, isto sem se tratar de um livro wakeup call.
Centra-se, então, num doentio triângulo amoroso e sexual. Lauren, Sean e Paul são os vértices desse triângulo, três jovens habituados ao consumo, ao prazer imediato e a tudo o mais que o dinheiro possa comprar. Contudo, o principal mérito de Ellis reside no facto de este autor não se centrar nos vértices, mas sim nos lados que os unem, sendo cada uma destas personagens e as suas correspondentes problemáticas apenas inerentes, mas nunca obrigatórias. Assim, lemos frases que são pensamentos transitórios, de cigarro em cigarro, de Valium em Valium, de cerveja em cerveja, numa vertente quase psicanalítica... os sintomas são o que permite chegar ao que é realmente importante: as causas que precedem todo o role de buscas por realidades inconsequentes e amorais.
Sendo assim, a prosa de Easton Ellis varia drasticamente enquanto Paul explora a sua bissexualidade e se envolve obsessivamente com Sean, enquanto este último arranca alguém de uma festa para dormir consigo (e de preferência para levar uma droga de qualquer tipo), e enquanto Lauren descobre o significado de amar por exclusão de partes. Os relacionamentos fúteis, desprovidos de sentimentos, lugares-comuns, tão friamente descritos, não são orientados pelas regras da atracção, porque as não há. Usamos o que há de mais primitivo nesta busca pelo prazer: o instinto, que também move uma história praticamente estática e perturbadora.
Ainda que os impulsos da cocaína, do álcool e do sexo alimentem um ciclo tão pantanoso cuja fuga dele se torne praticamente impossível, há espaço neste livro para encontrar algo de muito novo, algo de esperançoso, algo de transcendente até. Algo de superior ao vício, algo como a procura de uma realidade melhor, de uma realidade onde as coisas acontecem como sempre quiséssemos que tivessem acontecido. E isso torna As Regras da Atracção um livro fantástico, com uma prosa multifacetada no sentido quase literal do termo, e com um olhar distante e, ainda assim, tão próximo da ferida aberta. Sem deixar de ser um soco no estômago.
Sem dúvida, uma obra-prima da literatura americana e a obra-prima do polémico escritor homossexual Bret Easton Ellis, destacado aqui pelo formato de narrativa inovador que concebeu, mas também pela forma com que escolheu abordar temas tão intransigentes.
Título: The Rules of Attraction
Autor: Bret Easton Ellis