domingo, março 18, 2007

The Catcher in the Rye

«It's funny. All you have to do is say something nobody understands and they'll do practically anything you want them to.»

A fama de The Catcher in the Rye é sobretudo devida à polémica da sua censura. Escrito por J. D. Salinger em 1951, o livro é, nos dias de hoje, o livro mais vezes banido da Literatura, mas também uma parte obrigatória do currículo académico em muitos países de língua inglesa. A maior parte do ódio sentido pelos críticos em relação a esta obra deve-se à frieza com que Salinger, sob a voz crítica e entediada de Holden Caulfield, narra uns quantos dias em Nova York.

Holden Caulfield é um jovem perfeitamente amargurado, deprimido e crítico. Narra-nos os dias que sucederam a sua expulsão da escola Pencey Prep, agredindo, com bastante inteligência e sarcasmo, tudo o que detesta à sua volta. Numa espiral de amargura e repulsa, Caulfield consegue tornar conversas banais em fenómenos nojentos, converte o quotidiano em toda uma panóplia de tristeza violenta, distorce a realidade em algo sujo e corrompido. Assim, o leitor é introduzido na vida desesperante deste rapaz de dezasseis anos.

Em 1951, abordar temas como relações sexuais pré-matrimoniais, alcoolismo ou mesmo um certo tipo de violência era uma factor importante para garantir que o livro fosse rechaçado para a prateleira das obras polémicas. Ainda assim, Salinger consegue trazer alguma polémica nos dias de hoje, mesmo estando já grandes tabus ultrapassados: as páginas deste livro ganham vida na aversão de Caulfield pelos “phonies”, um termo que o protagonista usa para descrever o cinismo e o orgulho de quase toda a gente à sua volta. Sempre com um misto de apatia e melancolia.

Esta sua aversão ao cinismo e às aparências é bastante visível no modo como fala de Hollywood (onde o seu irmão trabalha, escrevendo argumentos) e como concebe uma existência onde ele livraria o mundo de todos os “phonies”, de todas as pessoas que corrompem a inocência. Assim, imagina-se como no poema de Robert Burns, if a body catch a body coming through the rye.

«What I have to do, I have to catch everybody if they start to go over the cliff— I mean if they're running and they don't look where they're going I have to come out from somewhere and catch them. That's all I'd do all day. I'd just be the catcher in the rye and all. I know it's crazy, but that's the only thing I'd really like to be. I know it's crazy.»

Num estilo particularmente diferente, com grandes doses de oralidade e de informalidade, Salinger faz muito uso do itálico e de determinadas expressões e maneirismos para concretizar as personagens de um modo muito concreto, realçando a narração fria e crua de Caulfield à medida que oscila entre a alienação desesperada e a depressão.

The Catcher in the Rye é também uma palavra de ordem contra o pré-definido, contra o tédio da modernidade, contra a superficialidade da moral americana, contra o cinismo e a hipocrisia que ainda hoje se verificam. Não se trata, portanto, embora corra esse risco, de um cliché na literatura, nem de um guião para existências deprimidas. Holden Caulfield traduz uma crítica desesperada e um desejo de superioridade nas sociedades humanas, em particular na Americana. Isto faz com que este livro permaneça actual num país que protege os seus jovens e não os deixa beber antes dos vinte e um anos, mas que os envia para a guerra a partir dos dezoito.

«I thought what I'd do was, I'd pretend I was one of those deaf-mutes. That way I wouldn't have to have any goddam stupid useless conversations with anybody.»


Título: The Catcher in the Rye

Autor: J. D. Salinger

2 Comments:

Blogger Maria Clara Moraes said...

Achei o seu blog por acaso no google. Não vi mais nada nem li nenhuma outra crítica, mas quero parabenizá-lo(a) pela crítica do Catcher. Incrível. Esclareceu bastante e me mostrou um certo lado do livro que eu não havia notado. É um livro bastante engraçado, pois chega a ser engraçado tamanha aversão ao mundo, mas ao mesmo tempo é infinitamente triste essa depressão na qual ele não consegue ver graça em nada. Adorei a crítica, parabéns. E quanto ao livro, é um dos meus preferidos. É a terceira vez que termino de ler.

6:35 da tarde  
Blogger Wylde said...

Muito Obrigado !! sua critica foi precisa ... encaixei muitas coisas em minha mente com ela... desde a morte de John Lennon até a minha situação existencial , obrigado

3:34 da tarde  

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