quinta-feira, janeiro 04, 2007

Journals

“I like to calmly and rationally discuss my views in a conformist manor even though I consider myself to the extreme left.
I like to infiltrate the mechanisms of a system by posing as one of them, then slowly start the rot from the inside of the empire.
I like to impeach God.
I like to abort Christ.
I like to fuck sheep.
I like the comfort in knowing that women are generally superior and naturally less violent than men.
I like the comfort in knowing that women are the only future in Rock and Roll
I like the comfort in knowing that the Afro American invented Rock and Roll yet has only been rewarded or awarded for their accomplishments when conforming to the white mans standards.
I like the comfort in knowing that the Afro American has once again been the only race that has brought a new form of original music to this decade. (Hip Hop / Rap)

Censorship is VERY American. “

Nascido a 20 de Fevereiro de 1967 e, oficialmente, dado como morto por suicídio a 5 de Abril de 1994, poucos músicos terão sido tão marcantes e influentes como Kurt Cobain nos últimos 20 anos. Mais que vocalista, líder dos Nirvana, está para além da marca do Grunge em termos musicais o cunho pesado que a sua pessoa fez sentir na geração que acompanhou o seu aparecimento e queda.

Há, obviamente, que ler estes diários de Kurt Cobain à luz da sua música e do percurso dos Nirvana. Para começar, porque é impossível fugir-lhe. As letras de músicas que povoam os diários, as indicações sobre editoras, os apontamentos sobre concertos ou a ruptura com membros da banda, são temas que atravessam constantemente estas páginas pessoais. É o caminho de uma banda que se acompanha pelo olhar do seu sofredor líder. Da época do liceu em que enviavam cassetes até à opressão megalómana da imprensa.

Há, ainda, que ler estes recortes de intimidade, plenos de desabafos, desenhos, rabiscos, opiniões soltas, rascunhos de documentos e outros, como as páginas do mito em se tornou Kobain. A relação com as drogas, a relação com a música, a relação com Courtney Love e a relação com a imprensa. Uma cabeça psicótica e com traços de incompreensão para com todos, notoriamente desligado de quase tudo. Ao mesmo tempo, uma consciência artística atroz, uma noção estética altamente empreendedora e perturbada, como se deseja em qualquer génio fugaz.

Há, finalmente, que ler tudo isto apenas como a parte mais pessoal e inacessível de um homem. Cobain escreve mesmo: “This is not to be taken seriously. This is to be read as poetry”. Tão somente isso, a sua vida pessoal. A explicação do seu consumo de drogas (um problema gástrico que o atormentava), os seus problemas de infância, os seus gostos musicais (parte extremamente interessante e merecedora de análise face à sua produção musical) ou os seus pensamentos políticos e sociais.

Quem se apresenta é um escritor constantemente revoltado e crítico, dono de um sentido irónico aguçado e sem preocupações e com uma cultura musical impressionante. Se para mais nada servir, estes diários são ao menos lenha para a fogueira que alimenta o mito e as eternas suposições à sua volta. O génio de Cobain está vivo.

“If you read, you’ll judge.”

Título: Journals
Autor: Kurt Cobain