sexta-feira, abril 27, 2007

Missão Solar

Ora vamos lá ver. Uma nave faz o seu percurso pelo espaço quando um intruso se faz presente e complica a missão, tentando matar os residentes da nave. Onde é que eu já vi isto? Ok, vamos tentar de outra forma então. Um grupo é destacado para salvar a humanidade de uma catástrofe emergente. Familiar? Não se trata de Alien, muito menos de Armageddon. Falamos de Missão Solar, o novo filme do britânico Danny Boyle que, com menos pompa que outros mas igual prejuízo, é mais um alvo dos péssimos tradutores de títulos portugueses.

Sejamos justos com Boyle e recapitulemos a sinopse. Num futuro próximo, a estrela que ilumina a Terra – que para os mais despistados é o Sol – está a apagar-se, e com ela a vida na Terra. Um grupo é enviado, na sequência de um primeiro grupo cujo destino se desconhece, para tentar reverter a situação, criando uma espécie de Big-Bang que recrie a formação de uma estrela e, como tal, reponha a vida, assim na Terra como no Céu.

A vantagem é que Boyle não esquece Alien e Armageddon, antes os cita e evita os seus erros. Bom contador de histórias como sempre se revelou (nunca esquecer Trainspotting), consegue fugir ao padrão básico de desenrolar dos acontecimentos. Opta por iniciar o nosso contacto com a nave Icarus II quando já passam 16 meses de viagem. Evitam-se assim os sentimentalismos desnecessários da despedida e entra-se de rompante num clima já conflituoso. A desvantagem de Missão Solar é, contudo, a mesma. Boyle não esquece que já existem Alien e Armageddon. E nós também não.

A questão que se tenta ainda introduzir no filme, porque Boyle não é menino de pegar num tema e deixar-se sossegado, é a dicotomia Fé/Ciência. Não bastava o filme ter uma toada eminentemente simbólica, como o indica o próprio nome da nave, é trazido à tona a questão existencialista por trás de tudo isto. Ainda bem, porque a Ficção Cientifica não se fez só para apreciar grandes planos do espaço. Há em Missão Solar as questões da proximidade cósmica, da solidão e da inevitabilidade. Fica uma não suficientemente profunda achega a Deus, ele próprio aqui revisitado constantemente sobre a forma de luz e vida, um ressuscitar que tem tanto de bíblico como de fenixiano.

Cillian Murphy, na pele de Capa, é o principal actor de serviço em torno do qual tudo parece girar, o sol do filme, nem de propósito. Ainda assim, e valha o esforço de Danny Boyle, não chega. Missão Solar raramente levanta as asas da prisão de apenas-mais-um-filme e quando o faz, qual Ícaro, queima-se, porque os temas que bem aborda exigiam outra consistência que o filme não soube ter.

Título: Missão Solar
Realizador: Danny Boyle
Elenco:Cillian Murphy, Rose Byrne, Cliff Curtis, Chris Evans, Troy Garity, Hiroyuki Sanada, Mark Strong, Benedict Wong, Michelle Yeoh
Reino Unido, 2007

Nota: 6/10