sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Wolf Creek


Wolf Creek tem, à partida, um grande handicap. É um filme de terror. Se há género onde o cliché e o alvo fácil abundam, é o terror. Lobisomens, homens maus com máscaras feias ou pessoas que saltam, insistentemente de forma previsível, por detrás de uma porta, misturam-se amiúde com adolescentes que passam férias em locais remotos, casas com mau aspecto e perigosos mutantes. Wolf Creek é, pegando na frase supracitada, uma história de adolescentes que passam férias em locais remotos.

A questão é que, neste filme de orçamento reduzido, Greg McLean joga com isso a seu favor. Ao contrário de tratar a vida adolescente das, chamemos-lhe assim, vítimas como um artefacto, essa mesma vida é a essência do terror. Do pouco menos de duas horas que dura o filme, cerca de metade é focada na vida quotidiana e desprendida dos três adolecentes de que fala o filme. É tornando-nos próximos das personagens, é fazendo deles pessoas reais, com afinidades reais e pormenores reais, que nos coloca num patamar tão próximo deles, que não nos conseguimos desprender da sua dor.

Sinopsando, Liz, Kristy e Ben são três amigos que percorrem a Austrália até Wolf Creek, um local real, onde a paisagem criada por uma cratera é, de facto, adequada para o clima de "Road tripping" a que se assiste. Durante essa visita, o seu carro avaria-se e a única pessoa que surge é um local que lhes oferece ajuda. E aqui sim, começa a parte de terror. A melhor parte. Pela maneira como é construída e pela forma como consegue, em parte, fugir daquilo a que o seu género nos habituou.

A grande vitória de Wolf Creek é evitar o gore. O sangue, os gritos, as personagens fantásticas, a música hitchcockiana, a sombra que se vê. Wolf Creek é, também, um filme de humanidade. Uma reflexão sobre os limites da mente humana, dos valores humanos, da condição que uma pessoa pode (não) ter perante outra. E aqui, todos os limites são vencidos. A dor física combina-se com a psiquíca numa anastomose cuja realidade é cruamente verídica. Crú é, aliás, um adjectivo bastante bom para o filme. Parte do calor das personagens que são dadas a conhecer, para a crueldade que é feita sentir no espectador.

Mas, dizia-se no princípio, o grande handicap é ser um filme de terror. E, como tal, não consegue fugir a muitos clichés. O pior do filme é a previsibilidade. Frases como "That´s not a knife. This is a knife" ou "If I told you, I'd have to kill you" são assustadoramente previsíveis. Pormenores como o porquê da falha do carro, são lamentavelmente esquecidos. Fica um exercício monumental de compreensão da mente humana (torna-se exaustiva a procura de causas do assassino) e o sabor de assistir a um filme de terror que, finalmente, não acaba mesmo nada bem.

Título: Wolf Creek - Viagem ao Inferno
Elenco: John Jarratt, Cassandra Magrath, Andy McPhee, Kestie Morassi, Guy Petersen, Nathan Phillips e Gordon Poole
Realizador: Greg McLean
Austrália, 2006

Nota: 6/10

1 Comments:

Blogger andre tosatti said...

Pois é, como foi dito o terror é mesmo um dos generos mais subestimados e digo, com razão em certa parte.Muitos aderiram ao cinema pipoca e esqueceram o verdadeiro objetivo, que é causar medo.Medo de verdade, que nos faz criar empatia com as personagens.....enfim, Wolfcreek, apesar de remeter a uns poucos clichês, ainda é um ótimo diferencial nesse mundo tão previsivel e cansativo do horror.

7:27 da tarde  

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