sábado, janeiro 13, 2007

Acorda!


Dá pelo nome de Acorda! Nova música portuguesa em mp3 a concretização da ideia de Henrique Amaro em colaboração com a Cobra Discos. Pelo sugestivo título se percebe a rica ideia do radialista da Antena3. São 120 músicas de 60 autores portugueses que tem em comum o facto de serem novos nomes das mais variadas cenas musicais portuguesas. Por cerca de oito euros, onde cinco revertem para o serviço de pediatria do I.P.O., adquire-se esta compilação de mp3, forma atraente, económica e qualitativa de estar por dentro da actualidade musical nacional.

Acorda! é ainda uma espécie de abertura de debate à importância das novas tecnologias na música moderna. Do MySpace como meio de divulgação ao mp3 como formato musical vigente. É ainda a prova da vitalidade e do futuro da produção musical. Mais ainda, Acorda! mostra que um dos piores flagelos do Portugal citadino (a falta de integração das segundas gerações emigrantes), tem na música um óptimo exemplo de resolução: A lusofonia vive na música.

Mal geral entre as compilações é a falta de coerência entre as faixas. Num projecto com 120 músicas, nem entre por aí. Prepare-se para descobrir, apontar os nomes de que mais gostou e ir à procura. Isto não é um cd. É o princípio de uma discografia. Não é fácil agradar a gregos e troianos. Mas é possível.

Abre com os Ovo, que trazem Pop cantada em português com apelação ao universo Mesa. The Weatherman, já criticado neste Espaço pelo excelente trabalho de apresentação em Cruisin’Alaska, mostra o seu universo Beatleano de simplicidades e harmonias sonoras. Electrónica dançável é a sugestão de Spartak!, que têm em “Spartak! One” o seu single mais conhecido. Conhecidos e dançados são também os Buraka Som Sistema, kuduro progressivo onde Luanda e a Electrónica se fundem na perfeição de corpos a dançar numa pista de dança inprovisada. Tempo de sair da pista de dança, com os Nigga Poison, sugestão bastante agradável de salada mista de Hip-Hop e Reggae.

Já descansámos e é tempo de voltar à pista. Mudamos de discoteca e quem nos tira o pé do chão agora são os irreverentes The Vicious Five, colectivo de um força imensa onde a guitarra é rainha e senhora do nosso ritmo. Força é também a palavra de ordem de “Amor Combate”, música dos Linda Martini, também já revistos aqui, e que lançam agora o cd Olhos de Mongol. O espírito pede reflexão depois de tanto movimento e nada melhor que os Dead Combo: Alma e sentimento é a oferta do duo que segue as pisadas sonoras de Rodrigo Leão. Old Jerusalém é o nome que se segue, numa opção que segue a toada mais calma e introspectiva.

Cacique 97 trazem ambientes mais Jazz, a par de Tora Tora Big Band que lhes junta uma especiaria oriental. Sativa são os representantes da Jamaica neste festival internacional, e antecedem os descendentes de Kusturica, Kompanhia Algazarra. Freddy Locks são membros Reggaes numa praia solarenga e segue-lhes Coca o FSM de elctrónica suave. Pores do sol do oeste americano com Mazgani antecedem outra grande participação, também ela já revista neste Espaço pelo trabalho Todos os dias fossem estes outros. É Nuno Prata com a sua boémia jazzística de recortes Pop-Rock. Coincidência ou não, segue-se 2008, com influência dos Ornatos Violeta. Rock Group Tiger faz jus ao nome e, na mesma toada mas toada mas com mais sal, juntam-se-lhes os Sizo. No meio da confusão, não perca de vista o nome Fat Freddy. Em frente há o mundo dos cantautores com The Partisan Seed, o mundo falado dos Houdini Blues e a pista de dança de Rocky Marsiano.

Sagas retoma o contexto Hip-Hop, mas Camarão e DK reintroduzem o tema Dança. A Pop cantada em português volta pela mão de O Projecto é grave antes dos beats melódicos de SP/Wilson. O Rap de Sir Scratch e a melodia de Soma abrem alas para a revisitação dos Mler Ife Dada que são os Micro Áudio Waves. A canção francesa de Nicorette, o Chillout de 1 Uik Project, as mensagens de Cartell70, o Reggae de One Sun Tribe, o Hip-Hop de Samp, a House dos Gaia Beat, ou o universo muito próprio dos The Ultimate Architects são o paradigma da diversidade. Ou ainda a canção dos Novembro e dos Frequency, o Rock dos Electric Willow, os Blues dos The Soaked Lamb, o ritmo mágico dos Munchen, a indecifrabilidade dos A Boy with the broken leg ou o som Guano-Apes-like dos Genius Loki.

Se ainda nos está a acompanhar, saiba que há ainda o universo mais pesado com Hiena, Green Machine e Tatsumaki, bem como os rockeiros Orangotang e os rítmicos Monstro Mau. Interessante alternativa Hip-Hop é L-Hyo, como sucede a Woman in panic nas atmosferas electro, bem apoiados por Alex Fx e Erro!. Sons de Kusturica também em Gnu, tal como os Pearl Jam estão em At Freddy’s House. Mais agressivos são os Veados com Fome, seguidos das guitarras de Intermission e dos melancólicos Oddawn. Para terminar, a electrónica com referências de videojogo nipónico de StereoBoy.

São cerca de sete horas, sim leu bem, sete horas de música que aqui sucintamente, sim também leu bem, sucintamente se reviu. Não deixa que lhe digam o que ouvir. Siga o que lhe diz o seu ouvido, como diria Susanna Tamaro. A música portuguesa agradece.

Título: Acorda! Nova música portuguesa em mp3
Autor: Vários

Nota: 6/10

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Spartak! Electrónica dançável?!
Já se deram o trabalho de ouvir as músicas?

Ass: um fã

7:28 da tarde  
Blogger Gustavo Jesus said...

Como deve ter reparado tratam-se de 60 bandas e cada uma das quais tem direito a 2 musicas, o que poderá, aí sim talvez concordemos, ser insuficiente para caracterizar e expor convenientemente a totalidade e a essência do trabalho das bandas.
Respondendo à sua elaborada questão, já, já nos demos ao trabalho de ouvir as músicas. Muito obrigado pela preocupação.

8:40 da tarde  

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