sábado, dezembro 02, 2006

Timbuktu


Timbuktu é o nome da terceira e última peça de teatro da Trilogia do cão no Teatro da Trindade. A primeira, O Morto e a Máquina, não tive oportunidade de assistir. A segunda, Erva Vermelha, foi para mim um êxito e provocou-me duas sensações: desgosto por não ter assistido à anterior e vontade de comprar os bilhetes para a terceira. A ideia de criar trilogias à volta de um tema, figura ou objecto é de louvar e repetir. Contudo, é preciso ter em conta se os textos escolhidos, apesar de bons, são propícios à dramatização. Timbuktu é claramente um texto para ser lido ao estilo narrativo e com poucas hipóteses de sucesso em cima de um palco.

É frequente classificar-se certos tipos de encenação como minimalista. Recorro a este termo quando os encenadores colocam poucos elementos cénicos em palco, aplicam a cada objecto uma carga simbólica muito elevada, aproveitam-se do jogo de luzes para a criação de espaços e procuram acentuar o impacto das palavras e conceitos no público sem artificialismos. Nada tenho contra este tipo de encenação de baixo custo e que efectivamente é a mais ajustada para muitos textos.

Sandra Faleiro, encenadora de Timbuktu, usa e abusa do termo minimalista. Praticamente resume a encenação às luzes e aproveita-se dos elementos descritivos dos diálogos para caracterizar a ambiência da acção. Durante não mais de 15 minutos temos duas cadeiras em cena, tudo o resto é a sala completamente vazia. Nem um pano de fundo a tapar a parede branca existe. Repito, este jogo conceptual é muitas vezes brilhante. Neste caso o desenho de luzes é interessante, mas insuficiente para erguer uma peça de teatro até ao sucesso. A isto associam-se alguns silêncios exagerados e caminhadas demasiado longas. A tendência para o entediante é aterradora.

Timbukto de Paul Auster não é um texto dramático e não tem forma para se tornar em tal. Não há a sequência clara dos conceitos indispensáveis à encenação: exposição, encontro, conflito, separação e desenlace. A solidão (ou ausência de) é um tema muitas vezes debatido em cima do palco com sucesso mas de risco elevado. Consequentemente e aliado à encenação-minimalista-quase-nula as ideias tornam-se confusas, imprecisas e misturam-se até a um final muito pouco emotivo. No final, o que sobra são três boas interpretações de André Levy, Cristina Carvalhal e Rogério Vieira ( perfeito na humanização do cão).