quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Diamante de Sangue

“This Is Africa.”

Diamante de Sangue consegue a incrível proeza de compilar as características que fazem dele um grande filme e, ao mesmo tempo, o reduzem de um brilhante filme. Diamante de Sangue fica a meio caminho entre o filme-manifesto e o filme de acção. A parte boa é que nem é apenas filme de acção, arrastando-se em intermináveis e desprovidas de sentido cenas de massacre sanguinolento, nem se esgota no filme-manifesto onde as fronteiras entre o bem e o mal se polarizam. Diamante de Sangue consegue recolher dos dois a melhor parte, mantendo o filme aceso e disperto com a vivacidade da guerrilha na Serra Leoa e, paralelamente, abrindo brechas na componente humana mais profunda da África dos seus personagens.

Contudo, Zwick perde em Diamante de Sangue a oportunidade da excelência por nunca permitir que o filme se afirme, exactamente, nem como filme de acção nem como manifesto. Talvez Diamante de Sangue pedisse uma abordagem mais semelhante a Cidade de Deus, desprovida de filtros morais, crua e nua. Porque é no fundo disso que se trata. Fruto do meio, o conflito civil na Serra Leoa na década de 90, o que vemos são crianças a matar crianças, aldeias dizimadas e uma luta constante pela liberdade individual expressa num diamante. Há um duvida constante se é a natureza humana que é corrompida mas é no fundo correcta ou se é a mesma que corrompe a sociedade. Zwick perde-se quando deixa que a sua boa consciência civilizacional se sobreponha à crueldade africana. Ganham-se alguns muito bons momentos de densidade psicológica elevada temperados com uma já mais típica emotividade bélica.

Mas, para além do bom filme recheado de boas intenções, para além das nomeações para os Oscars, para além do retrato de uma África mais profunda e verdadeira, para além da boa fotografia de Eduardo Serra, a grande conquista deste Diamante de Sangue são as duas grandes interpretações de Leonardo Di Caprio e de Djimon Hounsou. Hounsou, verdade seja dita, não está muito diferente do que lhe vimos em Gladiador, mas a verdade também é que esta versão de herói de bom coração e melhores intenções lhe assenta como a ninguém. Em relação a Gladiador, aparece mais maduro, com maior versatilidade e maior possibilidade de se expandir na procura de uma personagem de grande intensidade e força.

Quanto a Di Caprio, revela-se cada vez mais, e passando a analogia óbvia do trabalho com Scorsese, parecido com De Niro. Um actor versátil, com inteligente gestão de carreira, que consegue conjugar o lado mais comercial com o lado mais independente, sem esquecer o trabalho com grandes realizadores ou os filmes de causa. Começa em Titanic, rever A praia, O Aviador, Gangs de Nova Iorque e The Departed, e acabar com Diamante de Sangue confere uma boa ideia da ascensão qualitativa de um dos melhores jovens actores do momento. Diamante de Sangue poderia ter sido um muito melhor filme. Mas que ninguém duvide que estamos perante um dos mais sinceros retratos da África profunda e conflituosa. This is Africa.

Título: Diamante de Sangue
Realizador: Edward Zwick
Elenco: Leonardo Di Caprio, Djimon Hounsou, Jennifer Connelly, Arnold Vosloo, Kagiso Kuypers e Antony Coleman.
E.U.A., 2006
Nota: 7/10

1 Comments:

Blogger Salucombo_Jr. said...

o filme nao 'e bom e a representacao dos dois nomeados nao esta ma, mas confesso que por mim Edward Zwick conseguiu chegar ao ponto A.
entenda-se o ponto como "This is Africa".

3:49 da tarde  

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