domingo, abril 22, 2007

Vivo # 3 – Alexander Gavrylyuk & Orquestra Filarmónica da Eslováquia nos Dias da Música (C.C.B.)


Este ano, para surpresa de muitos melómanos que, como eu, ansiavam pelo decréscimo substancial do preço dos bilhetes para concertos de extraordinária qualidade, a Festa da Música do CCB viu-se reduzida a dois dias. Assim, a edição deste ano, sob o mesmo formato que as antecedentes Festas, dedicou-se inteiramente ao piano. Foram dois dias de concertos, dois dias de entradas para espaços alusivos ao instrumento rei da Música dita Clássica. Pelos auditórios e salas do Centro Cultural de Belém passaram nomes como Alexander Gavrylyuk, Artur Pizarro, Bernardo Sassetti, Jorge Moyano, Maria João Pires, Mário Laginha, Pascal Rogé, Uri Caine, orquestras de renome internacional, e solistas de instrumentos “primos” do piano, como o cravo (com Nicolau de Figueiredo) e a marimba (com Pedro Carneiro)..

À semelhança das edições anteriores, os repertórios destes artistas eram variados, embora a edição deste ano, uma vez que não era dedicada a um compositor ou a um período artístico específicos, conseguiu trazer ao público uma obra tocada mais vasta e abrangente, cobrindo algumas formas do barroco, passando pelos românticos e pelos modernos, com uma pequena paragem para a improvisação mais jazzística. Dia 21 de Abril, no grande auditório, Alexander Gavrylyuk ao piano, acompanhado pela Orquestra Filarmónica da Eslováquia dirigida por Olivieri-Monroe, trouxe-nos o magnífico Concerto para Piano e Orquestra no. 2 op. 18 em Dó Menor, do génio russo Sergei Rachmaninov (1873-1943).

De todas as formas musicais existentes na Música, o Concerto para Piano e Orquestra sempre foi olhada como uma fórmula quase divina, oscilando entre o duelo de titãs e a lírica complementação de duas “vozes” tão distintas. É certo que o piano oferece uma paleta interminável de sonoridades – tão bem explorada por Rachmaninov nos seus quatro concertos – e que a orquestra consegue manipular a musicalidade imensa a partir dos seus múltiplos instrumentos. No entanto, Rachmaninov atinge um patamar diferente quando escreve o Concerto no. 2: alcança aqui toda a genialidade que lhe faz justiça, expõe do modo mais lírico e mais bonito tudo aquilo que conseguia pôr em música, desenvolve, sem nunca esgotar, o piano em companhia da orquestra. Apesar de ter atingido o seu expoente máximo no Concerto no. 3 – bastante mais prepotente e tecnicamente dificílimo – é no no. 2 que lemos o Rachmaninov mais esteta, mais lírico, de mais bonita expressão. Uma obra magistral e perfeita.

Sobre Alexander Gavrylyuk, é necessário referir a impressionante técnica do pianista, assim como também é de notar a absolutamente arrebatadora leitura da partitura do compositor russo. Alexander Gavrylyuk é um virtuoso do piano, que brilhou ao longo dos quase trinta e sete minutos do Concerto, que se sagrou divino com as mãos nas teclas do instrumento mais magnânimo da noite. Olivieri-Monroe dirigiu uma Orquestra fluente e especialmente intensa, em especial no toque dos sopros no primeiro andamento, no brilho das cordas e dos fagotes no segundo andamento, e na segurança dos pizzicato e do crescendo no terceiro andamento. A prova de fogo de Gavrylyuk enquadra-se na mestria de Olivieri-Monroe à frente do gigante orquestral, funde-se na precisão expressiva por entre o domínio extremo do teclado.

Há quem diga que o melhor de um espectáculo são os encores. Depois de ser aplaudido com especial entusiasmo, Alexander Gavrylyuk não resistiu em oferecer-nos uma redução e variações para piano da célebre Marcha Nupcial do Sonho de Uma Noite de Verão do alemão Felix Mendelssohn-Bartholdy. Um toque final, bastante humorístico, que levou a audiência a irromper num aplauso ainda maior. Uma noite para celebrar, poder-se-ia dizer. Para muitos pianos e muitas orquestras.