Alter-Ego

Pedro é o centro da acção. Ele realiza um filme que mostra a Inês, a mulher que ama. Neste filme, surgem Amadeu e Elísio, que se conhecem num barbeiro e desenvolvem uma história de amor pouco convencional, mas ao mesmo tempo repleta de déjà-vu’s do amor moderno. Amadeu e Elísio são as personagens que se mexem no cenário da mente de Pedro. Tudo começa, e acaba, quando a realidade da sua relação se mistura com a ficção do seu filme.
Com texto de Artur Serra Araújo, esta é uma história cuja grande vantagem é a boa administração feita entre a parte cinematográfica e a teatral. Entre a tela e o palco, as mesmas personagens vão se enrolando numa espiral de confusão, onde fica a ganhar a parte cinéfila. A actuação em palco surge quase como pretexto, uma mímica (por vezes bem feita) de sentimentos e repetições.
Realizado por José Wallenstein, o filme traz-nos sequências pouco lineares, temporal e espacialmente, com uma presença sexualmente marcante aqui, com uma melancolia demasiado soturna ali. A peça, encenada por Ana Luena, traz pormenores curiosos de encenação, um bom jogo de luzes, mas não deixa margem de manobra para a parte da representação, com excepção de Luciano Amarelo.
Não se pense contudo poder dissociar os dois objectos. Teatro e Cinema aqui são um só. Talvez até, infelizmente, menos que um. Com carências de fluência gritantes e uma história que o não é (não que isso seja a priori algo negativo, simplesmente o é quando não prende o público), Alter-Ego vale sobretudo pelas passagens entre realidade e ficção e pelo cruzamento artístico. Um projecto alternativo, de relativa originalidade, mas cuja frequência não abunda nos teatros portugueses.
Título: Alter-Ego
Realização: José Wallenstein
Encenação: Ana Luena
Elenco: Pedro Mendonça, Marta Gorgulho, Luciano Amarelo e Mário Santos.
2 Comments:
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Alter-Ego padece de um problema comum no teatro experimental e também em algum amador: a ânsia de inovação técnica e formal é tão exagerada que o próprio esqueleto da peça acaba por ser sacrificado. O enredo perde-se algures no caminho e no fim resta pouco mais do que a impressão de um qualquer delírio freudiano pontualmente animado por transgressões entre a presença física e a tela.
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