domingo, dezembro 17, 2006

Prateleira #8 - The Clash (UK)


The Clash é a versão britânica do álbum de estreia da banda homónima britânica, considerada uma das precursoras do movimento punk no Reino Unido. No final dos anos setenta, o Reino Unido testemunhava a revolução musical que distinguiria bandas internacionalmente e criaria um estilo diferente do que tinha sido feito até então. No entanto, os The Clash conseguiram fazer a sua música onde tantos tentaram e apenas conseguiram vaguear em torno de um cliché.

A banda foi formada depois de Joe Strummer ter largado os The 101’ers e ser ter juntado a Mick Jones e a Paul Simonon no grupo que seria chamado de The Clash. Pouco depois, juntou-se-lhes o baterista Terry Chimes, peça que impulsionou alguns concertos sem grande expressão junto do público. As editoras discográficas finalmente descobriram o potencial da banda e os The Clash assinaram um contracto de cem mil libras com a CBS. Este acto causou discórdia entre os britânicos, que chegaram mesmo a proclamar a morte do punk depois da efeméride. A situação acalmou e, depois do famoso The Anarchy Tour de 1977 (com bandas como Sex Pistols, Johnny Tunders & The Heatbreakers e os The Damned) o que restava do dinheiro do contracto serviu para a gravação deste disco.

Nesta altura, já os The Clash contavam com Nicky "Topper" Headon como baterista que, apesar de se ter tornado o baterista definitivo, não participou aquando da gravação deste disco. O álbum foi lançado em Abril de 1977 e vendeu mais de cem mil cópias, um valor não muito elevado dada a qualidade do som, que apenas agradou os ouvintes de punk já habituados a técnicos de som sem experiência. Dois anos mais tarde, o álbum foi lançado nos Estados Unidos com um som melhorado, algumas faixas diferentes e um alinhamento modificado.

Assim, neste disco, temos Joe Strummer como vocalista e na guitarra, Mick Jones na primeira guitarra e com alguma voz, Paul Simonon no baixo e Terry Chimes a.k.a. "Tory Crimes" na bateria.

O ritmo simples de Janie Jones é um bom início para o CD, não só por ter ficado conhecido como um clássico da banda e um clássico do punk, mas também porque elucida os ouvintes acerca do conteúdo musical que se expõe ao longo do disco. A faixa seguinte é Remote Control, onde ouvimos a combinação da diferença de duas vozes únicas: a de Mick Jones e a de Joe Strummer. É uma faixa um pouco mais lenta, que resulta muito de uma sucessão decrescente de acordes aliada a uma percussão característica. Sem deixar de incentivar a energia

I’m so bored with the USA acabou por se tornar um mito, fenómeno explicado pela divertida guitarra que não excede um tempo definido nem se torna demasiado sobrelevada. O baixo mantém a sua linha fiel e sem grandes alterações, destacando o refrão em coro: I’m so bored of the USA. A faixa seguinte é White Riot, popularizada depois do cover dos Anti-Flag. A versão presente neste disco é uma versão diferente da escutada na versão americana deste CD, sendo bastante melhor. Esta é música mais rápida do álbum, o que, juntamente com a sua pouca duração, contribuiu para a sua conversão num ícone do punk britânico. Deve o seu título às rebeliões conhecidas por Notting Hill Carnival Riots, tema inspirador para Joe. A versão americana acrescenta algumas sirenes e uma profusão menos legível da linha melódica da guitarra.

Hate & War é mais um colosso na música punk e na carreira da banda. Destaque para as letras provocadoras, à boa maneira punk, que funcionam como crítica social. O refrão final é um excelente exercício fruto do cruzar das vozes de Mick e Joe. What’s my Name consegue ser um pouco aborrecida e apresentar um refrão monótono. É a única música do álbum atribuída a um ex-guitarrista da banda, Keith Levine, e a única que não está ao nível do resto do álbum.

Eis que chega Deny, uma faixa exclusively British. A guitarra aproxima-se de uma vertente mais sombria, unida à voz de Joe a cantar uma letra mais violenta e menos humorística. A faixa está muito bem conseguida, enquadrando perfeitamente o refrão com as notas dedilhadas na guitarra e com a letra, se bem que, mesmo com o acrescentar de alguns pormenores muito bem musicados, Deny peque também um pouco pela repetição.

London’s Burning representa um auge deste CD, sendo bastante rápida, com uma letra que nos fala de Londres e da realidade com que os fãs punk tomavam contacto todos os dias. Já para não falar do soberbo solo de guitarra de Mick Jones, contributo mais do que essencial para tornar esta faixa uma das melhores músicas punk escritas até hoje. E, do mesmo modo que London’s Burning se apresenta enquanto um clássico, Career Opportunities também se consegue distinguir nesta esfera musical por aceder ao mundo do desemprego numa letra irónica aliada a uma guitarra simples e a uma melodia fácil.

Cheat, a música seguinte, bebe sobretudo dos The Ramones no refrão, apesar de conseguir uma oscilação rítmica muito interessante, um solo de guitarra fantástico e alguns efeitos colaterais muito atraentes. Foi deixada de parte na versão americana por se destacar do resto do álbum, apesar de ser uma excelente música punk. Retomam-se depois os ritmos muito rápidos com Protex Blue, um lugar de destaque para todas características indissociáveis da banda, tal como o humor, a rapidez com que se canta e se toca, e a energia que se transmite.

Provavelmente a faixa mais curiosa deste disco seja Police & Thieves, uma música quase experimental que mostra o contacto dos The Clash com o reggae. E é fantástico o modo como, em pouco mais de seis minutos, conseguem articular o punk com o reggae de um modo tão perfeito, seja pelo intercalar das vozes de fundo com a guitarra, seja pela percussão mais jamaicana. Contudo, o destaque é, sem dúvida, a linha do baixo, absolutamente fundamental para o resultado final que é uma faixa muito rica em referências e muito rica no que toca a uma articulação fabulosa entre dois universos que caminhariam paralelamente nos anos seguintes.

48 Hours mostra-se demasiado curta (a mais curta do álbum), mas enquadra-se no apetite auditivo: uma guitarra típica, um refrão em coro, uma letra interessante. Acaba por ser um prefácio para o grande final deste CD: Garageland. Garageland tem a melhor letra deste álbum e é uma das melhores letras dos The Clash. O título foi inspirado numa crítica muito frequente nos concursos televisivos: o júri costumava dizer às bandas que deviam ter ficado na garagem. Porém, esta faixa consegue ser diferente do resto do disco e agradecemos aos The Clash por não terem ficado na garagem. Mostram-se novas maneiras de abordar o que podia perfeitamente estar muito usado ou muito tido em conta, isto sem se andar muito longe da qualidade do resto do disco. "I don't wanna hear about what the rich are doing/ I don't wanna go to where the rich are going/ They think they're so clever; they think they're so right/ But the truth is only known by guttersnipes."

De um modo geral, The Clash (UK) foi um excelente álbum de estreia e uma óptima rampa de lançamento para a esta banda e para muitas outras que começavam a gravar e a tocar. Para além de ser um disco clássico para os amantes de punk, este álbum representou uma era, uma mentalidade. Atingiu níveis de crítica muito inteligentes à sociedade e à política, conseguiu ter sentido de humor, abraçou uma realidade alternativa. Sem dúvida um percursor de grandes novidades, sem dúvida uma amostra do best of the British.


Título: The Clash (UK)

Artista/Compositor: The Clash

Ano: 1977

1 Comments:

Blogger TONY, Duque do Mucifal said...

eu gosto do album. Garageland com as suas guitarras, janie jones...este 1º album foi uma demonstração de força dos Clash. Mas já aqui se notava a técnica da banca em Policie Thieves. Técnica essa que foi ao rubro em London Cailling. GRANDE ALBUM!
Estive há um mes atr´sa em Londres e comprei o Elgin Avenue Breakdown dos 101'ers

7:55 da tarde  

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