quinta-feira, dezembro 07, 2006

Voz Própria #2 - Diogo Infante

Diogo Infante (foto João Silveira Ramos)
Quando decidimos criar esta rubrica, em que procuraríamos desafiar artistas a expor as suas experiências, um nome assaltou-me repetinamente o pensamento: Diogo Infante. Pelo sucesso da carreira de actor e agora como Director Artístico do Teatro Municipal Maria Matos.
Para a realização desta entrevista contámos com a preciosa ajuda de Helena Mascarenhas (Directora de Comunicação do Teatro Maria Marios) e, obviamente, com a disponibilidade de Diogo Infante.
Com mais de 15 anos de carreira é de consenso geral que é um excelente actor. Quais foram as suas preocupações ao desenhar esta carreira? Houve registos que procurou mais ou alguns que evitou?
Nunca delineei uma estratégia em termos de carreira. Tinha, e tenho, uma profunda paixão pela arte de representar e queria aprender o máximo que pudesse, estava ávido de experimentar desafios novos, que me permitissem crescer como actor e testar as minhas capacidades. Sabia que estava limitado pelo simples facto de viver num país pequeno com uma mercado de trabalho limitado. Nunca me impus um estilo ou registo, desde a comédia, à tragédia, ao drama realista ou ao teatro do absurdo, sempre achei que devia passar pelos vários estilos, sempre ambicionei ser polivalente. Mais do que num estilo ou género, revejo-me numa atitude séria e profissional de estar na profissão, numa busca permanente de encontrar formas interessantes de comunicar com o público, impondo-me sempre níveis de exigência muito altos, nem sempre atingíveis. Sou duro comigo, e procuro nunca me deslumbrar pelo sucesso.
Hoje com as inúmeras telenovelas e série infantis, vemos muitos jovens a tentarem a carreira de actor. Alguns conseguem vingar sem o Curso de Teatro do Ensino Superior. Ainda assim, há bastantes vozes críticas perante esta nova procura de actores para consumo imediato. Para o Diogo, que seguiu a carreira pelo conservatório, qual a importância deste na formação de um actor? Torna-se indispensável para um actor profissional a experiência e maturação desse trajecto?
È sempre perigoso generalizar, mas acredito que uma formação adequada é meio caminho para atingir um determinado nível técnico, que permita a um jovem actor ter uma maior e mais eficaz capacidade de resposta, às várias solicitações profissionais a que estamos sujeitos. O tempo de formação dá-nos igualmente um maior auto conhecimento, das nossas capacidades e limitações e esse conhecimento é fundamental na gestão emocional que temos necessariamente de fazer, no confronto com as várias personagens que vamos interpretando.
Foquemo-nos novamente na sua carreira. Já fez Teatro, Cinema e Televisão. Como é que se consegue moldar às exigências de cada estilo e em qual se sente mais à vontade?
È necessário reconhecer a linguagem que esta a ser utilizada, evitando cair em ideias demasiado pré concebidas. No essencial, somos uma matéria moldável que visa servir um projecto mais global, seja ele teatro, cinema ou televisão. Em cada uma destas áreas, há especificidades que vamos incorporando até se tornar algo natural mas a base é sempre a mesma, a representação! Pessoalmente sinto-me mais á vontade, ou melhor, tenho mais prazer, no teatro, pelo desafio que sempre implica o confronto com o público.
E agora surge um cargo directivo, Director Artístico do Teatro Municipal Maria Matos. O que é que falta ao Diogo Infante, enquanto profissional, para se sentir realizado? Há algo a atingir para além disto?
Há sempre novos desafios. Á medida que vamos avançando na idade colocam-se novas etapas, novas personagens e novas dimensões. Pessoalmente ainda ambiciono realizar um filme.
O êxito como director artístico é neste momento o que nos fascina mais. Peças como Laramie e The Pillow Man foram um sucesso na medida em que, nos primeiros dias dos espectáculos a sala estava pouco preenchida e nos finais, pelo passa-a-palavra, praticamente enchia. O que é que pesa na escolha dum espectáculo? Há um fio condutor na escolha de peças para o Maria Matos? Como se apercebeu que mais cedo ou mais tarde estas peças teriam sucesso?
Há sobretudo a consciência da necessidade de investir em textos contemporâneos, que reflictam realidades com as quais os públicos possam mais facilmente se identificar.
Acredito que é forçoso desmistificar o carácter, por vezes pesado e intelectual, que é atribuído ao Teatro, criando pontes e factores estimulantes que ajudem a formar públicos mais informados e com um sentido critico e estético mais apurado. Para além da qualidade, implícita na escolha, de um texto, valorizo necessariamente a equipa criativa e a sua capacidade de potenciar o texto, bem como a utilização de novas linguagens e o cruzamento das várias artes performativas, num posicionamento vanguardista, sustentado e consequente.

Depois de um primeiro ano de sucesso, quais as expectativas para 2007?
As maiores! Estamos extremamente optimistas e queremos capitalizar o facto de termos conseguido chamar sobre nós a atenção e curiosidade do público, ao dotar o Teatro Maria Matos de uma nova identidade e dinâmica cultural, que se deseja cada vez mais, uma referência na cidade. Estamos igualmente conscientes da responsabilidade de termos colocado a fasquia bastante alta, com espectáculos como "Laramie" e " The Pillowman", mas queremos continuar a trabalhar para proporcionar espectáculos de qualidade e que contribuam para uma reflexão conjunta sobre a nossa existência e a sociedade em que estamos inseridos.
Lemos que gostava de ter uma Sala Estúdio mas por motivos de investimentos tornou-se inviável. É um dossier para reabrir no futuro?
Acho difícil. Implicaria uma intervenção morosa e muito custosa. Além de que, iria neste momento descaracterizar o espaço do Teatro, bem como o trabalho que temos vindo a desenvolver.
Este é o Teatro que temos, e estamos muito contentes!

Como consequência do bom trabalho (assim o classificam crítica e público), espera ficar mais do que os três primeiros anos de contrato ou há outros projectos?
Confesso que não tenho pensado muito nesse assunto, quando chegar o momento, espero fazer uma análise do trabalho que efectuamos, juntamente com o conselho de administração da EGEAC, e decidirmos se faz ou não sentido continuar.
Para finalizar, vê-lo em cima de um palco com um marco do Teatro Nacional como é Eunice Muñoz torna-se algo imperdível. Que expectativas se têm para um desafio destes, enquanto actor e director?
Estou naturalmente muito expectante e entusiasmado. É um sonho antigo poder contracenar com a extraordinária actriz que é Eunice Munoz, e estou certo que o seu contributo para o nosso Teatro vai ser precioso e marcante.