quarta-feira, outubro 11, 2006

O Código de bem escrever

Belbo, Diotallevi e Casaubon conheceram-se no período revolucionário estudantil dos anos 6o e, anos mais tarde, reúnem-se através de uma editora para um projecto de edições literárias sobre o misticismo e ocultismo criados à volta da história dos templários. É pelos olhos do doutorado Casaubon que vamos sendo informados dos acontecimentos, nem sempre de forma linear, dos três editores. Envolvendo-se no tema de forma mais pessoal do que deveriam, os três vão desenvolvendo uma teoria por entre toda a informação cruzada que recebem de textos de época e de escritores fascinados pela história da Ordem. É assim que criam O Plano.

Esta será uma sinopse de O pêndulo de Foucault, de Umberto Eco. O que esta sinopse, e outras, escondem é o complexo pensamento revertido de Umberto Eco, para além da sua perfeccionista cultura. Se a última é por demais conhecida, quer pelos seus vários ensaios quer pelo seu trabalho enquanto semiologista, o que esperar do processo de escrita de Eco depois de O nome da rosa? Em O pêndulo de Foucault, Eco volta a surpreender-nos, desta feita pelas inversões que faz da história. Se em O nome da rosa nos inquietávamos, apesar da cultura medieval subjacente, como num policial de Agatha Christie; neste caso tentamos perceber, com o que nos vai sendo dado, a veracidade desta teia de conspirações que os intervenientes vão tecendo.

Uma vez mais, Eco mostra que há um propósito para além da mera demonstração de cultura, embora esta fosse suficiente. O pêndulo de Foucault, como livro de ficção que embarcasse no tema das conspirações sobre a história dos templários, da maçonaria e do Graal, seria facilmente superior a qualquer um. Pelas bases históricas que apresenta, ao nível dos textos citados, pela coerência e profundidade da escrita e pela forma como os temas estão expostos e aprofundados. Contudo, o livro não se resume, como os outros, a isso. Bem ao estilo de Eco, há algo mais.

O pêndulo de Foucault é um livro sobre a crença desmedida, sobre a necessidade do homem de acreditar no oculto, em algo mais do que nas coincidências e o óbvio. É um livro sobre como três homens conseguem facilmente encher as medidas a todos os paranóicos desesperados por uma teoria bem urdida. Invertendo o conceito, hoje em dia generalizado, de que há conspirações e grupos secretos que moldam a sociedade das suas catacumbas, Eco questiona a nossa capacidade racional de enfrentar a nossa necessidade de algo grandioso e oculto. Eco apresenta ainda, apesar de pecar por vezes pelo excesso de erudição que afastará algum público, um muito bom resumo para alguém interessado em iniciar-se na história dos templários, da maçonaria e de mais algumas ordens secretas.

Por último, O pêndulo de Foucault é uma lição para toda a panóplia de livros místicos que povoa as livrarias portuguesas. Inclusive, e especialmente, para o Código da Vinci. Umberto Eco mostra como bem escrever, como bem pensar e como fugir ao óbvio. Mostra como tecer uma boa história, corroborada pela coerência histórica e lógica, mantida pelo interesse narrativo de um policial. Uma leitura que não será tão fácil, mas que se demonstrará, sem dúvida, mais proveitosa. Em suma, um romance histórico que não apela a ser lido na praia e de forma light, mas sim ao uso desse bem inestimável, o pensamento.

Título: O pêndulo de Foucault
Autor: Umberto Eco

Nota: 7/10

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

isto é mesmo a sério?
uma crítica ao "Pêndulo de Foucault"? 7/10?
Aliás este blog é a sério?
Seja como for continuem que são uma bela forma de entretenimento.
Aquela do Pedro Górgia matou-me...
Força!!!!

7:36 da tarde  
Blogger Ensaio said...

Podes especificar a tua crítica sobre o meu post do Pedro Górgia?

8:37 da tarde  
Blogger Luís Galego said...

Sem querer fazer de causidico porque já tenho com que me entreter considero este Blog muito interessante e apelativo, nao entento a critica do mr anonymos

10:08 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home