quinta-feira, junho 22, 2006

Playlist #5 - Verão

Grease OST - Summer Loving

Bryan Adams - Summer of 69

Frank Sinatra - Summer Wind

Pink Floyd - Schools out for summer

Aeorosmith - Girls of summer

Deftones - My own summer

Shaggy - In summer time

Incubus - Summer romance

Placebo - English summer rain

Caetano Veloso - Chuvas de verão

Fúria do açucar - Eu gosto é do verão

Humanos - Gelado de verão

segunda-feira, junho 05, 2006

Edição Ilimitada

Após Suspeitos do Costume, álbum de 2002 galardoado com Disco de Prata, os Mind da Gap surgem agora com Edição Ilimitada. Com uma carreira que remonta a 1993 sobre o nome de Da Wreckas, o conjunto nortenho é por muitos considerados o melhor conjunto Hip-Hop português. Certo é que, a par de Da Weasel, se bem que seguindo trilhos distintos, foram a face mais visível da afirmação do género em Portugal, quando muitos não lhes afiguravam espaço de representação.
É sobre este estigma que os Mind da Gap vão trabalhando. E depois do último disco, estes suspeitos do costume decidiram acima de tudo experimentar. Partindo da segurança que as misturas de Troy Hightower lhes conferem (com quem já tinham trabalhado em Sem Cerimónias e que assinou também Ritmo, Amor e Palavras de Boss AC), Edição Ilimitada demonstra um inextinguível vontade de mutação e condensação de géneros.
Ilimitadas também parecem ser as faixas do cd. Se a dita experimentação é o ponto que cria alguma originalidade no cd, Serial e os seus companheiros parecem também ter sido vítimas dessa excessiva virtuosidade. Muitas faixas e muitas faixas diferentes fazem de um cd com algumas boas músicas um audível e volátil álbum de 17 faixas. Considerados um grupo musicalmente bastante coeso, os Mind da Gap parecem ainda procurar nortear a sua procura do melhor álbum português Hip-Hop. Claramente, ainda não foi desta.
Ainda assim, alguns (muito) bons registos nascem da procura de novos caminhos que acaba por assassinar a coerência do trabalho. "Tango dos defeitos", "V.I.Penetras" ou um muito Kanywestiano "Bem vindo" a abrir o trabalho são prova disso. Pelo meio, músicas más de mais para um grupo com a história dos Mind da Gap: "Se nos dá prazer" seria single prioritário por outras paragens. Não nos MDG. Por enquanto, a rodar nas rádios, o single "Não stresses".
Título: Edição Ilimitada
Autor: Mind da Gap
Nota: 6/10

sábado, junho 03, 2006

Playlist #4 - Cidades

Freddie Mercury e Monserrat Caballé - Barcelona

Jorge Palma - Canção de Lisboa

Soulwax - NY Excuse

Jean Michel Jarre - Miami Vice

Louis Armstrong - Georgia on my mind

Benjamin Biolay - Chase à Tokyo

Jacques Brel - Amsterdam

The Clash - London Calling

Gotan Project - Last Tango in Paris

Frank Sinatra - Chicago, my kind of town

"Sida", de Al Berto

"aqueles que têm nome e nos telefonam
um dia emagrecem - partem
deixam-nos dobrados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz

arquivámos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias - o viajante
que irradia um cheiro a violetas nocturnas

acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos - a mão queimada
junto ao coração

e mais nada se move na centrifugação
dos segundos - tudo nos falta

nem a vida nem o que dela resta nos consola
e a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágoa

assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amámos mas não voltaram
a telefonar"

in Horto de Incêndio

Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares, poeta português pioneiro na escrita desapiedada e sem subterfúgios sobre a Homossexualidade, traz-nos neste poema uma, também ela pioneira, visão pessoal e dolorosa da Sida. Um mês antes da sua morte, afirmava ao jornal Expresso: “Todos os meus livros tiveram um caráter de urgência”. Al Berto morria, a 13 de Junho de 1997, de Sida.
Poeta e editor, Al Berto conseguia não só ser um dos rostos mais proeminentes de uma geração urbana que não tinha pejo em assumir a sua sexualidade e fazia-o com uma naturalidade descritiva, um necessitar visceral não de chocar, mas de se afirmar. Em "Sida", retirado do seu último livro de Poesia Horto de Incêndio, oferece uma visão autobiográfica de um lado obscuro muitas vezes associado a todo o contexto homossexual de que provinha.
Esta inserção do poeta no mundo que descreve é bem patente pela união que as próprias formas verbais transmitem: "arquivámos", "acendemos", "pressentimos". É no passado, neste passado em conjunto, de memórias, de "nuvens breves" guardadas por entre as "imagens difusas" que se arrastam, é neste passado que o poeta relembra os que partiram. Os que partem.
Por um campo semântico de impotência e dor ("voraz", "negra", "confusos", "mágoa"), o sujeito poético vê-se rodeado por um sentimento de perda, perante a qual nada pode fazer. Entre a dor de ver os que lhe são queridos definharem e partirem e a masoquista memória de tudo, o poeta passa, terminando o poema como o começou, lembrando que, no final, o que importa é quem já não telefona.